tag:blogger.com,1999:blog-325375092024-03-13T23:25:11.073-02:00Meia dúzia de qualquer coisaGarçom, tem um aforismo em minha sopaAnonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.comBlogger92125tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-35601170590981875702011-12-11T21:13:00.001-02:002011-12-11T21:20:17.472-02:00Aos spammers de plantãoGostaria de saber o que se passa na cabeça de um spammer. O que faz com que ele, ou eles, ou a corporação "Spam Networks", escolha uma caixa de comentários específica para inundar com seus dejetos.<br />
Existe um texto meu chamado "Meu mundo e nada mais", escrito há decênios. Era só uma postagem sobre o fim de um ano e as habituais retrospectivas que fazemos quando um ano se finda e outro se inicia. Eis que, por mistérios insondáveis e esdrúxulos, essa postagem recebe pelo menos 10 spams semanais na caixa de comentários. Ao abrir meu e-mail acabo me deparando com um anônimo postando cocô.<br />
Olha. Meu blog é pessoal. Nem monetizado ele é. Não é lido por celebridades, não muda a vida de ninguém e fica abandonado por tempo demais. Senhor Spam, será que é pedir muito para que você ME ERRE? Obrigado.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-1087118451825136822011-10-02T12:07:00.000-02:002011-10-02T12:07:35.315-02:00Gula<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-gRPAdaWG3G_MUlDckHJM_iKvfjo1qSMta7-kmMktzD-cyDIDseZlKQXEus_hanDmlD-QNCFnntqS2kvJdVMaA8ZII6hjx_ifANtu3IqgFTn55_ShlYGT_3USmIiiiCOJH4hN/s1600/inferno6.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-gRPAdaWG3G_MUlDckHJM_iKvfjo1qSMta7-kmMktzD-cyDIDseZlKQXEus_hanDmlD-QNCFnntqS2kvJdVMaA8ZII6hjx_ifANtu3IqgFTn55_ShlYGT_3USmIiiiCOJH4hN/s320/inferno6.jpg" width="320" /></a></div>
<style type="text/css">
<!--
@page { margin: 2cm }
P { margin-bottom: 0.21cm }
-->
</style>
<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Durante
meu primeiro emprego, meus dias de folga – já sem as obrigações
escolares, pois meu tio e o que restou de meus parentes preferem que
alguém tenha dinheiro a conhecimento – eram preenchidos com duas
atividades básicas: a ida à biblioteca e a leitura dos livros que
eu pegava na biblioteca. Nunca fui de baladas e nem sou exigente
quanto ao que me acompanha enquanto leio; bastam uma fumegante xícara
de café e bolinhos de trigo. Ok, você deve estar perguntando o que
diabos é esse bolinho de trigo. Titio Sid dá a receita. Acompanhe.</span></span><br />
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Em
uma tigela, coloque cerca de 300 gramas de farinha de trigo.
Acrescente uma pitada de sal e coloque água na mistura, batendo
vigorosamente até que a farinha salgada transforme-se em uma pasta
com consistência entre a massa de bolo e a panqueca. Reserve. Em uma
frigideira, coloque óleo de soja ou qualquer tipo de gordura
disponível – os fanáticos por comida saudável vão sofrer uma
apoplexia quando ler, mas minha casa tinha um depósito quase
industrial de gordura de torresmo, cortesia de minha vó e depois de
meu tio – e deixe aquecer. Quando a gordura estiver quente, pegue
uma colher, retire uma porção da massa anteriormente batida e
deposite sobre o óleo. Repita a operação até que toda a massa
esteja frita. O tempo de fritura vai depender do seu gosto; se quiser
os bolinhos crocantes, como os meus preferidos, uns cinco minutos por
batelada. Rápido, prático, calórico, nada saudável e a salvação
da lavoura em tempos bicudos.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Geralmente
eu não dava trabalho nenhum a ninguém; eu mesmo preparava meu café
e meus bolinhos, em uma época em que eu ficava constantemente
sozinho em casa. Infelizmente, meu pai, meu tio e meus irmãos
descobriram as delícias de produzir picuinhas em voz alta e com som
em alto volume, minando meus espaços calmos e os reduzindo às horas
que eles não estavam. Para que estes poucos instantes não fossem
embora durante a fritura dos bolinhos, tive a ideia de comprar
algumas frutas, já que me sobravam alguns cruzeiros (depois cruzados
e cruzados novos) após as obrigações. Numa segunda-feira após o
expediente, fui ao mercado e comprei maçãs, laranjas e bananas,
numa quantidade grande o suficiente para que eu pudesse ler meus
livros beliscando algo por pelo menos quatro dias.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> No
dia seguinte, chego em casa, tomo meu banho e pego meu livro (“O
Caso dos Dez Negrinhos”, Agatha Christie, me lembro bem). Vou à
geladeira para pegar uma maçã e... só tem uma! Vou à bacia que
servia de fruteira e as bananas e laranjas tinham acabado. Puto, mas
ainda civilizado, pergunto candidamente: “já acabaram as frutas?”.
“É, o pessoal comeu”, respondeu meu tio. Não consegui terminar
a leitura, tamanha a raiva.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Sábado.
Meu tio e meu pai perguntam se eu ainda tinha dinheiro para comprar
“mistura”. Disse que não e avisei que iria dar uma volta. Como
sempre, deram de ombros – sempre tive a impressão que eles
continuariam a dar de ombros mesmo se eu dissesse “vou ao centro
ficar pelado e esfaquear todos os vira-latas que encontrar” - e fui
para Indaiatuba. Mais especificamente, para o maior supermercado da
cidade naquela época.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> A
caminhada não durou mais do que vinte minutos. Ao entrar no
supermercado, peguei uma cestinha, inalei o caldo indistinto formado
pelo aroma vindo das seções de hortifruti, açougue, higiene e
limpeza e padaria e andei como se pisando na borda do precipício.
Calma e calculadamente. As gôndolas desfraldavam os produtos numa
ordem simétrica, marca com marca, pacotes retangulares, quadrados,
circulares. Foi a primeira e única vez em que entrei em um
estabelecimento comercial sem saber o que eu queria previamente. A
compra deve ter durado inacreditáveis 45 minutos.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Saindo
com a sacola plástica na mão, visualizei meu trajeto mentalmente e
decidi onde pararia: à sombra de uma pata-de-vaca perto do
Indaiatuba Clube. Um lugar ermo, onde, ao contrário de hoje, viva
alma ousava passar (ok, é um exagero, mas digamos que a densidade
populacional de Indaiatuba não era tão grande assim). Sentei meu
traseiro gordo em um paralelepípedo estrategicamente colocado
embaixo da árvore e comecei a destrinchar o conteúdo da sacola.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Primeiro,
o iogurte. Seis bandejas, quatro delas sabor morango. Foi como
desnudar a pessoa amada: o invólucro de cada potinho foi
meticulosamente retirado e eu sorvi os seis com gana. Literalmente,
lambi os beiços. Terminei e coloquei os seis potes empilhados ao meu
lado, no chão. Depois, mais iogurte, desta vez líquido. Aquelas
garrafas de 1 litro. “Agite antes de beber”, ordenava o rótulo.
A embalagem parecia uma coqueteleira em minhas mãos felizes. Um
minuto depois, retiro calmamente a tampa e bebo. Como água.
Ininterruptamente. Tudo o que eu pude dizer no final foi “coco”. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Próximo
item: um pedaço de cerca de 350 gramas de queijo mussarela. Quase
dois centímetros de espessura, e um cheiro que eu jamais vou me
esquecer; não por evocar sabores, mas por ser o troféu de uma
conquista gastronômica. “ Esse eu não preciso dividir com
ninguém. E nem comer uma ou duas fatiazinhas”, pensei. Não houve
esforço ao mastigar e quando cada pedaço alojou-se em minha boca,
eu o chupava como bala, como que prolongando o sabor e a sensação.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> O
salgadinho veio quase que imediatamente após. Cebolitos. Ele foi o
responsável pelo maior dilema dentro do supermercado: Cebolitos,
Baconzitos ou Stiksy? Nunca me arrependi desta decisão, e hoje o salgadinho
faz parte dos sabores de minha memória afetiva. Mas o melhor, ao
menos para mim, reservei para o final.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Quando
foi lançado, o bolinho Ana Maria era o que o povo aqui de casa
chamava de coisa de rico. Quando isso era dito eu meio que
automaticamente aceitava, como se nossa “pobreza” fosse motivo de
alguma espécie anacrônica de orgulho. O problema é que eu senti o
cheiro do bolinho. Baunilha. Tentei emular o sabor da baunilha nos
doces que eu comprava no bar ou até mesmo esquecer que o bolinho
existia. Afinal, eu nunca compraria e comeria aquele troço.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Na
sacola a meu lado, três pacotes com seis bolinhos Ana Maria. Todos
de chocolate com recheio de baunilha. Fui cruel comigo mesmo naquele
momento. Abri um pacote, enfiei o nariz e me intoxiquei com odor. A
saliva matou minha língua afogada. Peguei um bolinho e fiz o que
alguns homens fazem com charutos: cheirei toda a extensão da Ana
Maria antes de abocanhar. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Foi
a última vez em que comer foi quase uma experiência mística,
religiosa. Digo isso porque nunca mais chorei ao comer algo.</span></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-88323250677562273162011-10-01T23:45:00.001-02:002011-10-01T23:47:23.743-02:00Avareza<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhacywQ4Wl2VX5k8UTAqd8ItIGBGq_F8GXeQfSEv6hXGU41Kfr6gN7GMlAMfzzW9NlYB_PzhPSxtybsxcc7O55XKZ4C7dCd5xHDblQWhLX23zP4UtbpTdsHY2BC72zFFHHh7hPI/s1600/250px-Avareza_dante.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhacywQ4Wl2VX5k8UTAqd8ItIGBGq_F8GXeQfSEv6hXGU41Kfr6gN7GMlAMfzzW9NlYB_PzhPSxtybsxcc7O55XKZ4C7dCd5xHDblQWhLX23zP4UtbpTdsHY2BC72zFFHHh7hPI/s1600/250px-Avareza_dante.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<style type="text/css">
<!--
@page { margin: 2cm }
P { margin-bottom: 0.21cm }
-->
</style><br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Alguns
hábitos não nos deixam, mesmo quando não encontramos um motivo
lógico para que os mantenhamos. Quando vou bater perna ou cumprir
compromissos financeiros na parte central da cidade, faço como
muitos contemporâneos meus: anuncio com uma certa pompa “vou pra
Indaiatuba”, resquício de uma época em que a cidade era
informalmente dividida entre o “lado de lá” da linha férrea (o
Centro) e o “lado de cá” (a periferia). Enfim. Uma vez por mês,
lá vou eu pra Indaiatuba, boletos, contas de consumo e listas nas
mãos e paciência na alma.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Depois
das inevitáveis filas e das notas de real que rareiam na carteira, a
missão “cidadão pagador de impostos, taxas e afins” é cumprida
dentro do prazo. Há momentos em que a fome não nos acompanha com a
proximidade de uma sombra,mas no oitavo dia do mês de Agosto, a
manhã dando adeus, meu estômago anunciou que não poderia aguardar
o almoço em casa. Como só me alimento com arroz e feijão no
(des)conforto do lar, minha escolha foi a mais óbvia possível:
Pastelaria Kibe e Esfiha.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Para
quem não conhece a outrora pacata cidade de Indaiatuba, o
estabelecimento acima citado é famoso pelos preços não muito
escorchantes e lanches rápidos acima da média. Adoro o pão de
queijo, a coxinha, os folhados e as esfirras fechadas. Prático e
decidido quando o assunto é comida, já estava com o menu anotado
mentalmente quando entrei. Infelizmente, todas as mesas estavam
ocupadas e tive que optar em colocar os produtos em uma caixa que
eles fornecem no balcão self-service para degustar os petiscos na
praça em frente à Pastelaria. Escolher, colocar, pedir o suco,
pagar. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Visualizo
um banco sob a agradável sombra de uma sibipiruna; sento, deposito a
caixa ao meu lado, e ataco os salgados com precisão cirúrgica:
guardanapos de papel envolvendo a esfirra, abrir a boca e comer.
Nesse momento tudo o que desejo é a paz de minhas mastigadas em
silêncio. Só que sempre existem as pessoas que adoram ser um
empecilho consciente ao alento alheio.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> À
minha esquerda, ocupando um banco mais a mureta que separa os
buxinhos do passeio público, cinco pessoas. Cinco seres humanos, que
adoram mostrar que não tomam banho há semanas e que dividem
garrafas pet de 600 mililitros preenchidas com aguardente, dividiam
sua atenção entre os goles de pinga e o achaque aos transeuntes,
vítimas de sobrinhos postiços que sempre querem um real (“ô,
tio, arruma uma moedinha aí!”). Um desses cinco seres humanos,
carregando uma caixa de engraxate, me reconheceu e veio célere em
minha direção. Meu pensamento foi invadido por duas palavras. “Ô,
merda...”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> O
sujeito era tristemente famoso pela notória cara-de-pau. Não
importava quantas vezes o Serviço Social o enviava à sua suposta
terra natal (Jundiaí, ele sempre dizia), lá estava o gajo de volta
às ruas, ora sentado em uma sarjeta pedindo esmolas com cara de cão
sem dono, ora simplesmente abordando as pessoas usando a velha tática
da vergonha alheia para conseguir o que queria. E justo num dos raros
dias em que me dou ao luxo de comprar algo além do estritamente
necessário ele resolve me tornar alvo de suas palavras.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> “E
aí, gordão! Tá gostoso aqui né?”, disse o cabra, à guisa de
cumprimento. Grunhi algo ininteligível graças à minha boca cheia
de massa de esfirra. “Dá um real aí! O troco do lanchinho!”,
ele pediu com um tom arrogante. “Não sobrou troco”, respondo
seco. “Então me dá um pão de queijo, tô com fome. Não vai
negar comida prum irmão né?”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Não
sei bem porquê, me lembrei quando eu e minha irmã voltávamos do
supermercado, há mais ou menos quatro anos, comendo o conteúdo de
uma caixa de Bis, quando passamos por quatro crianças brincando na
calçada. Um deles, um moleque loirinho, gritou “tio, dá um Bis”.
Sem pensar muito, atendi ao pedido. As outras crianças começaram a
pedir com uma certa insistência; aquilo de certa forma me divertiu e
fui distribuindo chocolate até que eu ri e joguei para cima o
restante da caixa na direção deles. Continuamos nosso trajeto ao
som de “obrigado, tio!”. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Contudo,
não era uma criança a me pedir um pão de queijo. Era um sujeito
que já me fez passar muita vergonha por diversas vezes. E quando eu
o ouvi pedindo com empáfia, como se o meu salgado fosse o direito
divino DELE, olhei bem no fundo dos olhos dele e disse “não”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Ao
ouvir a negativa, ele começou a usar a velha tática de agir como
pobre-diabo faminto. “Nossa, vai negar comida mesmo? Cadê seu
coração?”. Continuei a olhar para ele e disse: “esse é meu
almoço. Fiz por merecer e vou comer tudo. Agora com licença”.
Peguei a caixa com os dois pães de queijo e o folhado de frango, me
levantei abruptamente e dei as costas pro sujeito. “Olha, gente, o
gordão tá me negando um salgadinho! Tomara que engasgue!”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Abandonei
a sombra e me sentei em outro banco que ficava a pelo menos 100
metros longe daquele sujeito, sob o sol do meio dia. Com a mão
direita, levava o folhado à boca; com a mão direita, tapava meus
olhos como uma viseira, impedindo precariamente a incidência dos
raios solares sob meus olhos. O que deveria ter sido um momento de
degustação tornou-se um cocho onde engoli o restante dos salgados.
O suco ajudou a empurrar goela abaixo. E não engasguei. “Da
próxima vez”, pensei, “me sento nem que seja no chão da
pastelaria”.</span></span></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-64471065723051265402011-09-24T23:11:00.001-02:002011-09-24T23:11:44.378-02:00Como a Geração Sexo, Drogas e Rock'n'Roll salvou Hollywood<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsaWyKHKiX8ucIGOHGDXoCXW9dS75Qb8be1NfkU9jCIDjpFhdjLRLLhz5KSWjq-dJLYeOWFr-GWPk8dIXi1fWJgXeiyZZFT9v9ZzkkdYB5rvoFD6Osp3R6Kh6vrWuBYfqpAVYJ/s1600/20_2259-cult-livro-blog.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsaWyKHKiX8ucIGOHGDXoCXW9dS75Qb8be1NfkU9jCIDjpFhdjLRLLhz5KSWjq-dJLYeOWFr-GWPk8dIXi1fWJgXeiyZZFT9v9ZzkkdYB5rvoFD6Osp3R6Kh6vrWuBYfqpAVYJ/s320/20_2259-cult-livro-blog.jpg" width="230" /></a></div>
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</style>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Algumas
coisas precisam do julgamento implacável do tempo para sabermos se
terão importância para entendermos o mundo em que vivemos. O
<i>zeitgeist</i> é formado por um caldo cozido em um caldeirão disforme e
em fogo brando; o sabor pode ser doce, amargo, fugidio, penetrante...
e será sentido desta maneira de acordo com as deidades pessoais. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Publicado
em 1998 pelo escritor e jornalista Peter Biskind, <b>Como a Geração
Sexo, Drogas e Rock'n'Roll Salvou Hollywood</b> (<i>Easy Riders, Raging
Bulls: How</i> <i>the sex, drugs and rock'n'roll generation saved
Hollywood</i>), tinha tudo para ser apenas um livro de fofocas indecentes
e picantes sobre as <i>starlets</i> hollywoodianas que deram um <i>gap</i> no
cinema estadunidense entre o final dos anos 1960 e a década de 1970.
Felizmente, Biskind sabia exatamente o que tinha em mãos, além de ter talento para extrair de seus entrevistados as etéreas lembranças
de uma época tão chapada. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Preciso
confessar, contudo, que o que me atraiu para o livro a ponto de
comprá-lo foi saber que a tradução é de Ana Maria Bahiana. Há
tempos, quando ainda sofríamos com o escorbuto nas naus portuguesas,
lia de tempos em tempos uma revista chamada SomTrês, onde fui meio
que educado a ouvir mais coisas além das rádios AM. Entre um mar de
críticos inteligentes porém rancorosos, destacava-se para mim as
resenhas equilibradas e impecavelmente bem escritas de Ana Maria
Bahiana; foi uma de minhas primeiras “grifes pessoais”, ou seja,
pessoas que eu acompanharia onde quer que elas estivessem e fazendo o
que quer que fizessem.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Claro
que, falando de algo que me interessa muito, que é o cinema, comprar
o livro e posteriormente lê-lo era questão de achar a oferta certa.
Porém, o medo de que o livro fosse apenas um compêndio de carreiras
de cocaína e baganas de maconha me fez ter dúvidas; afinal, não
conhecia o senhor Biskind. E qual não foi a minha surpresa ao ver
que o cabra manja?</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Peter
Biskind contou parte da história do cinema, ponto. Por isso seu
livro não tornou-se datado, inconsistente e parcial. Quer dizer, não
muito parcial; é inevitável que as opiniões do autor sobre os
filmes essenciais e o estado da indústria cinematográfica permeiam
os capítulos, mas isso é feito de maneira a não eclipsar o que
realmente importa: o impacto da chamada Nova Hollywood e seus
artífices no cinema combalido e enfraquecido, quase à deriva, da
Velha Hollywood. E a consequente derrocada desta “nova geração”
graças à inexperiência em lidar com o mais devastador pecado
capital: a vaidade.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Inteligentemente,
Biskind delimita a era dos pretensos <i>auteurs</i> estadunidenses entre
dois filmes, <b>Sem Destino</b> (<i>Easy Rider</i>, 1969) e <b>Touro Indomável</b>
(<i>Raging</i> <i>Bull</i>, 1980) e escancara todo o delírio dos personagens
principais na nada modesta empreitada de mudar o mundo do
entretenimento em busca da “arte”. Na verdade, o que pareceu, no
frigir dos ovos, foi que a chamada Velha Hollywood recuou quando não
sabia o que fazer com o som e a fúria dos anos rebeldes e
polarizados (Democratas/Republicanos, negros/brancos, guerra/paz,
careta/chapado – e isso é terrivelmente levado a sério pelos
estadunidenses e sua moral de caixa de leite) e ao ver o que os
representantes desta geração tinham a dizer e ensinar, voltaram com
mais subsídios intelectuais e cooptaram os que eram comercialmente
viáveis (Spielberg, Lucas, e por um tempo Friedkin, Coppola, Ashby)
ao esquema <i>high-concept</i> – tramas e sinopses que poderiam ser
resumidos em poucas linhas, vendidos em pacotes com astro, diretor e
faixa etária definidos – que fez a fortuna de produtores como
Jerry Bruckheimer e Joel Silver. Ou seja, a mesma Hollywood de sempre
com uma visão mais “moderna”, “comercial” e “vendável”. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Triste
foi ver a “contagem de corpos”, literal e figurativa. A quase
loucura de Francis Ford Coppola (nunca imaginei que Apocalypse Now
tivesse uma história tão conturbada assim!), a paranoia de Dennis
Hopper amplificada pelo álcool e drogas, as atitudes comercialmente
suicidas de Robert Altman e William Friedkin, a morte de Hal Ashby.
Foi a morte do diretor de <b>Ensina-me a Viver</b> (<i>Harold and Maude</i>, 1972)
que encerrou o livro. Mais do que um frio filme, foi o declínio de
um cineasta que determinou, pelo menos para Biskind, o verdadeiro fim
de uma era que, para o bem e para o mal, foi decisiva para a
indústria cinematográfica.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Como
a Geração Sexo, Drogas e Rock'n'Roll salvou Hollywood</span></span></b></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Autor:
Peter Biskind</span></span></b></div>
<b>
</b><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Tradução:
Ana Maria Bahiana</span></span></b></div>
<b>
</b><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">502
páginas</span></span></b></div>
<b>
</b><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Editora
Intrínseca</span></span></b></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span></div>
<br />Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-79076702073007651832011-09-18T00:18:00.000-02:002011-09-18T00:18:07.279-02:00O opositor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhP8gr1BTiq2ZUX7LwOmvzn3lT54ISzbVLs1biMueeQkJqtasnBn7Lc7ZXe00PevEOKUVrHICV-XWS8nyjYiSmkR7xD7HrQjoi4pLENrpI2enyt2EcX2Cg-bgHFHwTvxhBeAdkH/s1600/580fb57d-1e7d-46e6-bd41-6c1114ecb17b.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhP8gr1BTiq2ZUX7LwOmvzn3lT54ISzbVLs1biMueeQkJqtasnBn7Lc7ZXe00PevEOKUVrHICV-XWS8nyjYiSmkR7xD7HrQjoi4pLENrpI2enyt2EcX2Cg-bgHFHwTvxhBeAdkH/s320/580fb57d-1e7d-46e6-bd41-6c1114ecb17b.jpg" width="204" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<br />
<style type="text/css">
<!--
@page { margin: 2cm }
P { margin-bottom: 0.21cm }
-->
</style><br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Conheci
Luis Fernando Verissimo na Veja. Opa, é melhor contextualizar a
frase acima, caso contrário algum incauto vai imaginar que eu e o
escritor nos encontramos nos corredores da redação da revista
semanal. De novo, do início. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Meados
da década de 1980. Algumas professoras me presenteavam com edições
antigas da revista Veja, quando o editor-chefe era o José Roberto
Guzzo (leio tudo em uma revista. Tudo. Até o expediente).Mais do que
o início da abertura política, fui fisgado pelas páginas iniciais,
onde lia-se em grandes letras o nome “Luis Fernando Verissimo”. A
primeira coisa que pensei foi “será que tem algum parentesco com o
Érico?”. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Depois
do primeiro parágrafo, isso não importava mais. Descobri o meu
segundo cronista preferido – o primeiro, mesmo depois de tanto
anos, ainda é Rubem Braga – e uma referência para pesquisas. Sim,
pois muito do que ele dizia era javanês aos meus olhos pouco
letrados. Não foram raras as vezes em que eu me debruçava em um
dicionário ou ia ao Barsa (crianças, sou pré-histórico; Wikipédia
e Google sequer faziam parte do vocabulário corrente) por conta de
uma palavra ou frase de uma crônica dele.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Também
foi graças a Verissimo filho que odiei com toda a hemoglobina da
minha corrente sanguínea durante uma década inteira o Jô Soares.
Quando o hoje apresentador de <i>talk-show </i>o substituiu, eu me referia
ao senhor Eugênio Soares usando um epíteto de três palavras: filho
da puta. Mas já passou.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Passei
a consumir Luis Fernando Verissimo na biblioteca, tanto nas
coletâneas literárias quanto nas edições do Estado de S. Paulo.
Enquanto Érico Verissmo era um sonho intelectual inatingível para
uma capiau (embora eu secretamente quisesse ser um escritor tão
intenso quanto ele), Luis Fernando parecia conversar comigo. O texto
dele não era arrogante, tipo “minha educação formal é maior que
a sua, chupa!”; se havia referências mais rebuscadas, elas faziam
parte da estrutura assim como as moléculas de hidrogênio fazem parte da fórmula
da água.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Após
anos, ou melhor, décadas sem comprar um livro ou mesmo ler um (shame
on me), estava eu no mês de Agosto numa fria e impessoal rodoviária
quando vi na vitrine de uma livraria o nome dele, seguido de um
título simples – <b>O</b> <b>opositor</b> – e um preço deveras convidativo.
Não pensei duas vezes e comprei. Como ainda estava no meio da
leitura de <b>Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros</b>, deixei para
degustar as palavras de Verissimo depois, sem nenhum empecilho.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> O
que me chamou a atenção no início foi que esse livro faz parte
de um projeto chamado 5 Dedos de Prosa. Embora eu ache estranha essa
mania que algumas editoras tem em fazer com que um escritor aja como
um operário do vernáculo, “forçando-o” a criar uma história a
partir de alguma temática qualquer (foge um pouco ao meu
conceito de liberdade criativa, mas sei que os tempos são outros e
romantismo não paga as contas), foi muito feliz dar ao polegar, o
incensado dedo opositor que tanta diferença fez na evolução do
<i>Homo</i> <i>sapiens</i>, a verve e a imaginação de Verissimo.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Usando
o conceito das teorias conspiratórias tão em voga desde o século
XX, um pouco de história da Arte, fábulas brasileiras,
religiosidade e mitologia, o livro cria um universo crível dentro um
<i>thriller</i> de espionagem, onde a primeira coisa que se faz é a
desconstrução da alucinação psicotrópica: dá-se a ilusão
primeira de que o narrador sem nome está sob o efeito do chá
alucinógeno servido por uma das personagens mais estranhamente
incríveis criadas por ele, Serena, a “índia dinamarquesa”, pois
o relato contado a ele por um sujeito eternamente embriagado, grande
e estrangeiro, parece coisa de um filme do Paul Greengrass com um
toque de LSD.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> A
maneira brilhante que Verissimo usou para usar o polegar na história
faz com que a todo momento você se veja curioso para pescar as
referências que ele usa, desde o versículo da segunda carta de
Paulo aos Tessalonicenses à presença das Três Fúrias da mitologia
romana, da epidemia étnica ao afresco de Fra Angelico. Tudo isso
embalado em um suspense que faz com que o leitor queira chegar logo
ao final, tarefa muito simples e prazerosa, pois é uma edição
curtinha, pra se ler em uma sentada.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> <b>O
opositor</b> é uma crônica em forma de livro, onde os sabores dos sucos
tomados pelo narrador sem nome – caju, açaí, seriguela, buriti,
bacuri,patavá e sapiri – ilustram os atos em que a história se
divide, cada sabor sendo uma alegoria do desenrolar dos
acontecimentos. No final, resta apenas a água como simbolismo da
purificação e da verdade. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Todo
esse blablablá só pra dizer que adorei o livro... preciso ser mais
conciso da próxima vez.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">O
opositor</span></span></b></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Autor:
Luis Fernando Verissimo</span></span></b></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Editora
Objetiva</span></span></b></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">140
páginas </span></span></b>
</div>
<br />
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-62552135139105268862011-09-11T23:08:00.000-02:002011-09-11T23:08:51.550-02:00Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhY1LtfL33OGTzopSAcgv2yHjh_bKFYccAR-UslGGnPeV87x2jW1HDhMsfEMXdTmualmZjwtNLX635xMxz8DxS6T7zhHvYDfiwt7kN1fuioOdgp5z3KJUMxVLe8HI861f5NoUSL/s1600/11018218.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhY1LtfL33OGTzopSAcgv2yHjh_bKFYccAR-UslGGnPeV87x2jW1HDhMsfEMXdTmualmZjwtNLX635xMxz8DxS6T7zhHvYDfiwt7kN1fuioOdgp5z3KJUMxVLe8HI861f5NoUSL/s320/11018218.jpeg" width="222" /></a></div>
<br />
<style type="text/css">
<!--
@page { margin: 2cm }
P { margin-bottom: 0.21cm }
-->
</style>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">O
mundo do entretenimento está numa encruzilhada. Já não há mais
espaço para arroubos criativos que não possam vir a gerar
dividendos, pois não há mais lugar para a inocência e o
romantismo, se é que em algum momento da história houve inocência
e romantismo. Mesmo os que pregam uma espécie de anarquia criativa
querem, em algum momento, ser reconhecidos pelas suas obras. Como a
indústria do divertimento audiovisual movimenta quantias de dinheiro
nada desprezíveis (basta lembrar os US$ 6 bilhões arrecadados pela
indústria dos videogames no primeiro trimestre de 2011 – isso
mesmo, TRIMESTRE), não há muito mais espaço na mesa dos executivos
de grandes corporações da mídia para meros arroubos criativos.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> É
sob este prisma que o livro <b>Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros</b>
(<i>Abraham Lincoln: Vampire Hunter</i>) deve ser analisado. O autor, Seth
Grahame-Smith, não deve ser menosprezado por sua suposta tendência
canibalesca, ao prover um cozido ficcional-histórico. O que ele fez,
e com muita competência, foi produzir e apresentar um produto para
uso futuro no cinema, games e programas de TV. Usar a figura
emblemática do 16º. presidente estadunidense e fazer dele um
caçador de vampiros sem que sua biografia fosse sequer
desconstruída – pelo contrário, graças às óbvias lacunas que
todas a figuras históricas deixam graças a informações não
comprovadas ou documentos inconclusivos, há espaço de sobra para a
nobre arte de criação de teorias da conspiração, arte dominada
com mestria pelos estadunidenses – deu margem para que o livro,
imprecisões físicas e literárias à parte, cumprisse o papel de
apresentar ao público e aos investidores um pré-roteiro elaborado o
suficiente para não ofender a inteligência do leitor e para dar um
tratamento imagético inicial aos donos dos talões de cheque em
Hollywood.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Não
podemos esquecer que o próprio Grahame-Smith é um homem de cinema e
tevê, pois é coproprietário da Katzsmith Production e cada passo
que ele dá é previamente calculado para que possa ser transformado
em plots televisivos ou cinematográficos. Mas isso tira os possíveis
méritos do livro? Claro que não. O objetivo primordial da obra foi
alcançado: é divertimento que faz com que quem conheça a biografia
oficial de Lincoln busque as referências nominais usadas nas partes
onde os ficcionais vampiros aparecem, além de atiçar a curiosidade
de quem não tem muita intimidade com a história tanto de Abe quanto
da Guerra da Secessão. Malandramente, aproveita-se do <i>hype</i>
vampiresco que ainda inunda o imaginário das pessoas, graças a
obras como True Blood, The Vampire Diaries e (tá, tá certo...) a
saga Crepúsculo.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Marcelo
Hessel, do site Omelete, disse que um dos grandes problemas do livro
é a unidimensionalidade de Abe Lincoln, assepsiando sua
personalidade e o tornando uma espécie de versão em carne e osso do
Capitão América. Nós, brasileiros, não veríamos problema algum
em ver um personagem histórico gringo ser desconstruído para fins
“artísticos”; o grande problema é a grande idolatria que o nome
Abraham Lincoln causa nos EUA. Por mais que Seth Grahame-Smith queira
amealhar seus milhões de dólares usando a liberdade criativa
(podendo inclusive apelar para a primeira emenda da constituição
estadunidense), ele deve ter achado que já foi livre demais ao
incluir vampiros na trajetória de vida do presidente. Na versão
para o cinema provavelmente o senhor Lincoln será um pouco mais
ousado e com nuances mais cinzentas.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Sabia
exatamente o que me aguardava quando comprei o livro e ao terminar
imaginei o tratamento que o diretor Timur Bekmanbetov dará ao filme.
Bem diferente dos meus anos pueris, onde os livros que eu lia
formavam-se apenas em minha imaginação. Bem vindos à era nerd do
entretenimento mundial. Os super-heróis já não são mais a
fronteira final.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<style type="text/css">
<!--
@page { margin: 2cm }
P { margin-bottom: 0.21cm }
-->
</style>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Abraham
Lincoln: Caçador de Vampiros</span></span></b></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Autor
:<b> Seth Grahame-Smith</b></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Tradução:<b>
Alexandre Barbosa de Souza</b></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Editora
Intrínseca</span></span></b></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">333
páginas</span></span></div>
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"><br /></span></span><br />
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-2805274295443406042011-09-11T16:59:00.001-02:002011-09-11T16:59:37.037-02:00Dois segundos de alegria
<style type="text/css">
<!--
@page { margin: 2cm }
P { margin-bottom: 0.21cm }
-->
</style>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Não
é preciso escolher uma roupa definitiva; basta que ela seja
confortável o suficiente para ir até o estúdio, já que os
figurinos estão previamente escolhidos. “Esteja na produtora às 8
da manhã”, informou lacônico o telefonema. Sua agente era uma
pessoa prática e sem floreios. </span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQcsFq8Y0FLNTcUHlgYB31ff9XRQ1eFpbXkKAjaJ29TjCVnKot-R2qCs-j6f15iK3rHHVwgY2saKtNjq67Nii2SBddQIaDoDb85qzzayUDsHKGdgpY9OF0P57nF0qLbATs2ypa/s1600/TN500_40012_claquete.gif.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQcsFq8Y0FLNTcUHlgYB31ff9XRQ1eFpbXkKAjaJ29TjCVnKot-R2qCs-j6f15iK3rHHVwgY2saKtNjq67Nii2SBddQIaDoDb85qzzayUDsHKGdgpY9OF0P57nF0qLbATs2ypa/s320/TN500_40012_claquete.gif.png" width="320" /></a></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Sua
mulher apronta sua bolsa e seus relatórios enquanto o observa
colocar uma camiseta amarela e um jeans. “Tem alguma previsão de
quando vai terminar?”, pergunta, já sabendo a resposta. “Não. A
agência conseguiu quatro filmagens; uma delas poderá ser em
locação. Então já viu”, diz calmamente o homem, olhando para a
pilha de papéis que condensam sua dissertação. Sociologia, um
sonho oposto aos desejos do pai, que o queria arquiteto. Ela solta um
beijo no ar e se despede; o escritório a espera. Ele verifica seu
próprio rosto, pega documentos, chaves e celular e sai em direção
à estação do metrô.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Quarenta
minutos. O estúdio de gravação fica em um prédio de linhas retas,
“herança da escola Bauhaus, provavelmente”, pensa num esgar de
sorriso. Sétimo andar. Oi, deixa eu ver as credenciais. Ok, camarim
3. Suas roupas são colocadas no armário 38 e lá ficarão por tempo
indeterminado. Primeiro figurino: camisa de um time de futebol falso,
bandeirola, copo. Cinco outros o acompanham na cena em um cenário
simples: sofá, plantas artificiais, quadros. Ele ficará à
esquerda, sentado. “Beleza? Quanto tempo”, cumprimenta um dos
atores, que se senta no meio do sofá. “Desde o filme das
fraldas...”. Rápidas falas, quando o diretor pede silêncio e
orienta o que deve ser feito. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> “Ensaiando”.
Ele se levanta, grunhe algo ininteligível em êxtase, e seu rosto
passa a alegria de ver seu time fazendo um gol no time adversário.
Abraços trocados, felicidade. “Corta”. Voltando às marcas
iniciais. Pequenos ajustes de foco e algumas orientações sobre como
ser feliz vendo um marmanjo chutando uma bola. Impassível, ele olha
o vazio imaginando o tipo de sorriso que um apaixonado por futebol
dá. “Gravando”. Ele muda a expressão, abre a boca em um
“gooool” enquanto o olhar sorri por ele. “Corta”. Um gole de
água antes da segunda tomada. Grava. O rosto agora vai para trás
exprimindo quase um orgasmo. O abraço no parceiro de cena é mais
efusivo. Corta. Take 3. Take 4. E fim. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> No
único lugar onde ele pode fumar em paz (não que os haja muitos
ultimamente), ele ainda se prepara para o próximo esquete. Uma das
atrizes o acompanha e entre uma tragada e outra diz que pediu ao seu
agente para tentar colocá-la na figuração de Malhação ou de
alguma novela da Record. “Cara, você tem noção do quanto é
difícil conseguir isso?”. “Tenho sim; quando eu consegui uma
pontinha naquela novela das seis foi quase uma guerra! Pior foram as
promessas... não, você vai conseguir outras coisas, até fazer
parte do elenco de apoio”. “E aí, conseguiu o quê?”. “ A
vaga no comercial de lasanha”. Pfff. “Pelo menos foi uma
série...”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Próximo
figurino: terno,gravata, pasta de couro. “Pai de família,
provavelmente, e sem falas”. Na cena, ele entra sorridente na copa,
onde uma mulher e duas crianças dividem um pão com um novo
requeijão saborizado. “Merda, odeio requeijão”, pensa enquanto
procura mentalmente o sorriso adequado. Orientação da diretora.
Ensaio. O paletó é colocado displicentemente no encosto da cadeira,
e o sorriso é um tanto quanto confiante demais. Corta. Desta vez o
paletó é colocado com um pouco mais de zelo na borda e um sorriso
“bom dia”, aqueles que ele sempre admirou nos comerciais antigos
de margarina, brota. Um beijo cúmplice na estranha, um afago e uns
grunhidos amigáveis às crianças. Chegou a temida hora; comer o pão
com requeijão. Corta, repete. Corta, repete em outro ângulo. E
sempre com o olhar de quem adora. Corta. Mais uma. E outra. Outra.
Corta, ficou ótimo. O gosto do requeijão enfim pôde encontrar a
real cara de nojo dele. As crianças riram divertidas. “Deveria ter
gravado isso” diverte-se a diretora.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> “Locação
na próxima!”, avisa o assistente. Como a próxima vai demorar um
pouco e o local é num parque próximo, ele decide comer algo leve.
Num quilão frequentado por motoristas de táxi, ele coloca em um
prato alguns legumes e um bife acebolado. Enquanto come calmamente,
observa os frequentadores, detendo seus olhos e ouvidos em um senhor,
com seus 50 e tantos anos, barba espessa e grisalha, gabando-se com
seus colegas de métier sobre sua recente conversão ao catolicismo.
“Fui crente durante toda minha vida, mas foi Santo Expedito quem me
mostrou o caminho!”. Ele sempre foi fascinado em estudar o gestual
de certos profissionais, já que alguns destes gestos poderia ser
usado em suas curtas atuações. “O que cê tá olhando, moleque?
Não curto viado não! Vá encontrar Jesus!”, disse o velho
motorista ao notar que ele o observava. Ato contínuo, ele desviou o
olhar e terminou a refeição com um sorriso sarcástico.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Mais
um cigarrinho antes da filmagem. Chiclete de menta para disfarçar o
bafo. Agora o traje era esportivo: short de corrida, camiseta branca,
tênis. “Um fumante fingindo ser da geração saúde, é mole?”,
diverte-se ele com sua companheira de cena. “Vocês vão correr
suavemente por pelo menos 30 metros, certo? Vocês gostam muito disso
a linguagem corporal vai dizer TUDO!”, vaticina o obeso diretor. </span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Ensaio.
Os dois correm lado a lado. Um sorriso cúmplice e um mexer de boca
simulando uma conversa. Corta. “Conversem algo de verdade. Digam
algo com sentido. Não irá ao ar mas dará verdade pra cena”. Tá
bom. Ele entreolha a companheira de cena, que já entende. Ação.
Ele: “Dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial...”.
Ela: “Cebola e picles num pão com gergelim”. Com a mesma
cumplicidade anterior. Corta. Repete. Ele: “I'm not aware of too
many things...”. Ela: “I know what I know if you know what I
mean”. Mais cúmplices ainda, e com um sorriso cada vez mais real.</span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/V0vK88YDD4M?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Dez
tomadas e dez citações depois - “daqui a pouco a gente ia recitar
Tenessee Williams aqui”, ela disse – fim das filmagens. “Tem
mais alguma coisa?”, ele pergunta à sua agente. Ele suspira e
questiona. “E o elenco de apoio da novela, alguma notícia?”.
“Cara, tu sabe como é. O que tem de gente que quer trabalhar na
tevê... muita concorrência! Tenta entrar em uma companhia teatral”.
Ah, sim, o status do tablado antes de ser um mundano ator de tevê.
Ainda bem que sempre haverá a sociologia.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Banho
e de volta às próprias roupas. No metrô, as expressões uniformes
de enfado e indiferença das pessoas o faz questionar se alguma
daquelas propagandas realmente mostram reações de verdade. “Que
bobagem, é essa fantasia que paga minhas contas”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> “Você
chegou cedo hoje”, diz sua companheira. “A gravação do
comercial de plano de saúde foi cancelada para outro dia. Pena, eu
fico bem de jaleco”. Ela não esboça qualquer reação à piadinha
sem graça e ele pergunta se há algo errado.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> “Eu
tô grávida”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-62810634822678471902011-09-04T23:52:00.005-02:002011-09-04T23:52:57.409-02:00A inútil trajetória da comida
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</style>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Sábado,
8h.</span></span></b></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Feno,
ração, um pouco de capim fresco. Vitinha, como foi apelidada por um
funcionário do frigorífico, rumina calmamente e seus olhos pretos
mantém-se fechados como se saboreando o repasto que foi depositado
no estéril cocho onde ela e mais vacas se alimentam. Muitos apreciam
a quase simétrica disposição de suas pintas pretas em seu corpo
branco, além de sua calma zen que inspirou muitos trabalhadores a
serem vegetarianos.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Mal
sabia Vitinha que aquela seria sua última refeição.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> <b>Sábado,
10h30min.</b></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Paula
volta com a caminhonete vazia. Cheia, pelo menos até a ida ao banco,
só a pequena sacola com o resultado da venda dos pés de alface.
Mais do que satisfeita com a negociação, ela olha o pai e os irmão
já preparando o terreno agora vazio onde outrora se encontravam as
vicejantes hortaliças. “Vão plantar mais alface?”, ela pergunta
.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> “Não,
filha. Talvez um pouco de rúcula agora”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> <b>Sábado,
12h43min.</b></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Os
eixos passam trêmulos pela balança na rodovia. Tudo certo, hora de
aumentar um pouco a velocidade pra chegar logo ao destino. Cícero
puxa pela memória uma época que parece tão distante, onde ele
colhia os grãos de feijão e arroz debaixo do sol inclemente e os
levava na “cacunda”, como dizia sua mãe. Hoje, ao dirigir o
caminhão repleto de sacos destes grãos, ele fala sozinho enquanto
ouve Fernando e Sorocaba no rádio.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> “Essa
molecada não tem ideia do que é trabalho!”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> <b>Segunda,
9h37.</b></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Leitor
óptico de código de barras na mão, Lucinda vai dando coordenadas
que aos ouvidos dos motoristas e carregadores parecem descoordenadas.
“Não tem noção de logística mesmo”, pensa entredentes e com
uma certa empáfia a encarregada de recebimento de materiais. A carne
vai pra câmara frigorífica. Vitinha está entre elas. Legumes e
verduras? Ali. “Puxa, vou levar uns pés desta alface pra casa, tá
bonita!”, admira-se Lucinda. “O arroz e o feijão já pode deixar
por aqui mesmo. Dia de pagamento”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Cícero,
ao longe, engole um café retirado da pequena garrafa, distraído.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> <b>Segunda,
18h48min.</b></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> “Droga,
perder a novela das seis pra fazer compras, ninguém merece...”,
resmunga Douglas enquanto pega um carrinho. No açougue, coxão duro
e bife de patinho. “Ô chefe, tá uma facada o preço da carne,
hein?”. “E olha que nem passou na minha chaira, patrão!”,
diverte-se o açougueiro, já moendo a carne da próxima freguesa. O
arroz tá perto das embalagens de óleo. “Droga, a alface tá meio
murcha. Vai assim mesmo, quem manda ela não vir mais cedo?”. Ele
mentaliza o cardápio e já sabe o que vai pedir para Norma fazer.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> “CPF
na nota, senhor?”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><br /></b>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Quarta,
10h18min.</span></span></b></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Douglas
sempre se diverte com o que lê escrito no banheiro do trabalho. E
não adianta os chefes chamarem a atenção; frustrações mal
resolvidas entre subordinados e subordinantes não criam a coragem da
palavra dita. “Pior que eu reconheço a letra desta aqui sobre o
Artur!”, ri sozinho. Fim das atividades escatológicas. Papel,
descarga. “Minhas tripas são um reloginho”, orgulha-se, enquanto
lava as mãos. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> O
alimento vai transformar-se em energia motora e sensorial. Pois bosta
ele já é.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Entre
o sábado e a quarta, a mangueira próxima ao supermercado deixou
cair algumas folhas, viu algumas pétalas darem adeus e não teve
trabalho algum para captar a luz solar que que penetrou nos estômatos
e transformou-se em alimento. Como subproduto, ela expele oxigênio e
galhos e folhas secas transformarão em húmus, que alimentarão as
próximas vacas e e os próximos pés de alface, arroz e feijão. </span></span>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-62977977302171733062011-09-04T23:51:00.002-02:002011-09-04T23:51:36.774-02:00#3
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</style>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">SEXO!</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Confesse
seus pensamento ao ler esta palavra. Vamos, não se acanhe; este blog
é maior de 18 anos e responsável por todos os seus atos. Uma única
palavra e as pessoas formulam, postulam, fornicam, discutem e tentam
cooptar. Por que ninguém se importa quando alguém diz “árvore”,
“espaguete”, “ornitorrinco” mas se remexe nas cadeiras ao ler
a palavra SEXO?</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Nunca
entendi nem o endeusamento nem a satanização do sexo. Se quem se
preocupa tanto com essa simples junção de quatro letras procurasse
a definição em um bom dicionário teria uma visão bastante
prática. Vejamos o o que diz o Houaiss:</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> <i><b>sexo</b></i><i>
(cs) s.m. 1 conformação física, orgânica, celular, particular que
permite disqtinguir o homem e a mulher, atribuindo-lhe um papel
específico na reprodução (…) 5 p.ext. Sensualidade, lublicidade,
sexualidade (…)</i></span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Ou seja, sexo define se um ser
humano vai nascer com pênis ou vagina. Sexo também nomeia os
sentimentos que levam duas pessoas a copular. É isso.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> O problema não é o sexo; aliás,
o problema NUNCA foi o sexo, e sim o uso sociológico, religioso e
político dos atos sexuais. Desde a formação do conceito de família
até à prostituição, da supervalorização do cortejo à
pornografia, das discussões sobre os hormônios às intermináveis
querelas sobre heteroseexualidade e homossexualidade; tudo o que
envolve sexo é motivo para debates.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> E se fôssemos apenas animais
conscientes sobre nossa sexualidade, sem polarizações? Vão dizer
que isso é uma simplificação burra. Pois a intelectualização nos
levou à ditadura do politicamente correto. Somos forçados a sermos
cem por cento puros e estéreis, sem nuances cinzas que forçam o
pensamento. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="font-style: normal; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Ah, quer saber? Estou sob o efeito
de energéticos e é uma da manhã. É melhor eu dormir. Sem sexo. </span></span>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-48272561461469470392011-09-04T23:50:00.002-02:002011-09-04T23:50:23.949-02:00#5
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</style>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Música
sempre foi essencial em minha caminhada. Mesmo frustrado em minhas
pretensões iniciais de cantar bem ou tocar algum instrumento – é
preciso aliar vontade ao talento – nunca deixei de ter uma trilha
sonora, real ou neural. Em meus delírios pueris e juvenis me via
parte integrante de um imenso musical; enquanto muitos achavam
absurda a ideia de ver marmanjos cantando para expressar alguma coisa
em filmes, eu sorvia “Cantando na Chuva”, “Sete Noivas para
Sete Irmãos” e “Mary Poppins” com voracidade quase religiosa.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Quando
eu escolhia minhas músicas prediletas, valendo-me dos mesmos valores
subjetivos dos críticos mas sem poder embasar minhas preferências
usando a história ou o profundo conhecimento das técnicas
envolvidas (hah), eu preferia as canções mais tristonhas, seja nas
letras ou na linha melódica. Gostava, e gosto, do desamparo, da
desesperança, da crueza e das lições implícitas nestas tristes
canções.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Quando
eu cantava a plenos pulmões “Meu mundo e nada mais” com meus
cinco anos, eu não estava ferido e amargurado como a persona da
letra; apenas achava bonito que alguém pudesse expressar tão bem
sentimentos tão tristonhos. Mas foi ao conhecer Elton John que vi
que a dor e a amargura poderiam ser munições perfeitas para a
música pop. Vou falar especificamente de uma.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Em
1973, uma novela fazia muito sucesso: “Carinhoso”, escrita por
Lauro César Muniz. Uma das músicas da trilha sonora internacional
fez um estrondoso sucesso, “Skyline Pigeon”; ela é uma daquelas
canções que fazem parte do inconsciente coletivo dos brasileiros,
como outras que fizeram parte de trilhas sonoras de folhetins na
década de 1970 (nem me faça começar). Foi através da música que
conheci o senhor Reginald Kenneth Dwight, cujo nom de plume tornou-se
sinônimo de música pop e rock de qualidade. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Nesta
época, só alguns privilegiados tinham aparelhos de som que mereciam
o nome; eu tinha uma Sonata que me tio havia me dado junto com alguns
compactos simples. Um destes privilegiados era o filho da patroa de
minha mãe à época; num sábado eu fui com minha mãe até a casa
desta mulher (enorme e linda, com apetrechos que eu só tomaria real
conhecimento do que eram na década de 1990) para ajudá-la a trazer
algumas roupas que ela havia ganhado. Enquanto ela dispunha vestidos,
calças e camisetas em sacolas, eu permaneci quieto, olhando tudo com
um misto de fascínio e curiosidade. Os odores daquela casa eram
muito diferentes dos que eu estava acostumado a sentir, e muito de
minha percepção futura de “casa de rico” vem desta memória
olfativa.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> De
repente o filho da patroa passa pela porta do quarto onde estávamos
eu e a mãe com um disco nas mãos. Era uma cópia americana de
“Goodbye Yellow Brick Road”, como ele fez questão de frisar. Ele
entrou em seu próprio quarto e colocou para rodar. Além da
faixa-título, uma música em particular me chamou a atenção. Mal
sabia minha própria língua, mas a canção não-nomeada era linda.
A voz cristalina de Elton John, o piano, aquele jeito de cabaré, e o
que mais me chocou: a tristeza e pungência com que ele cantava o
refrão. Fomos embora sem saber que música era aquela; afinal, o
filho da empregada não podia dirigir a palavra a um dos membros de
tão rica família (quando soube, décadas mais tarde, que eles eram,
e são, apenas uma família de classe média, me penitenciei por ser
tão subserviente às convenções implícitas naquela época). Ela
nunca foi exatamente um hit aqui no Brasil, assim como a faixa-título
e , talvez, “Benny and the Jets”. Por isso a canção tornou-se
uma espécie de fantasma que assombrava minha memória de tempos em
tempos.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> No
começo de 2011, estava eu tentando ouvir rádio (coisa que se torna
cada dia mais difícil graças à qualidade de certas rádios pop),
girando o dial aleatoriamente quando ouvi a tal canção misteriosa
de Elton John. Foi como se eu visse a pessoa amada pela primeira vez:
minha pele pipocou de arrepio, minha boca ficou seca, os olhos
lacrimejaram, o coração bateu descompassado – e não estou
exagerando. E a tristeza do refrão continuava intacta; pude ouvir a
gaivota no final da canção, dando um ar mais desesperançado ao
conjunto. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Agora
tenho a música em meu pen drive. Ela se chama “Sweet Painted
Lady”, primeira faixa do lado A do disco 2. E meus instintos
estavam certos: a letra é de uma certa forma uma ode à tristeza de
uma vida sem muitas expectativas, e que pode ser resumida no refrão:
“Sweet painted lady/ Seems it's always been the same/ Getting paid
for being laid/ Guess that's the name of the game, ooooohh”. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Sem
querer, o filho da patroa quis me cooptar ao lado comodista da Força.
Não conseguiu. Mas eu gosto de saber que ele existe para inspirar
tão belas canções.</span></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-33714188716301022232011-09-04T23:49:00.002-02:002011-09-04T23:49:34.209-02:00#6
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</style>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">A
primeira vez que me senti apaixonado foi aos 13 anos. Não era um
desejo carnal tão comum quando os hormônios nos fazem ir à caça e
o cérebro, este órgão fanfarrão, quer transformar tudo em uma
linda história cheia de preceitos morais, éticos e humanos. Era uma
paixão pelas partes do todo que culminavam em uma obsessão pelo
objeto completo.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Os
cabelos longos e de um amarelo dourado. Os olhos
castanho-esverdeados. As mãos a segurar lápis e canetas. O cheiro.
E, claro, minha falta de coragem para me declarar. Quando a coragem
veio, fiz que faço de melhor: escrevi uma carta (ok, engraçadinhos,
eu acho que escrever é o que faço de melhor, posso? Agora parem de
rir. É sério. Ah, qualé...).</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Foi
a pior atitude que eu tomei. Eu não era alvo do radar dela, mas
quando apareci no monitor ela percebeu que tinha um motivo para se
divertir. De uma certa forma foi até bom; alguns homens não sonham
ser a razão da alegria e das risadas de uma mulher? Pois é. Pena
que eu era só o bobo da corte, não o cortejador. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Ao
vê-la beijando um rapazinho diametralmente oposto ao meu tipo físico
– corpo longilíneo, tez alva e cabelos loiros, se fazem tanta
questão de saber – meu corpo entrou no horizonte de eventos
próximo a um buraco negro. Só não fui sugado porque eu descobri os
gibis da Marvel e que o cheiro da biblioteca era melhor do que o
perfume dela.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Cheiro.
Há o rosto, há o toque, há até o paladar da saliva, mas assim
como um Grenouille tupiniquim eu sou atraído pelo cheiro. Chego a me
apaixonar por ele. É como se ele exalasse algo que me falta. Por
isso eu nunca dei muita sorte nessa coisa que algumas pessoas chama
de amor – meus amigos, essa coisa que vocês chama de amor nada
mais é que a ação dos verdadeiros donos do seu corpo, os
hormônios, como a noraprinefrina, a serotonina e a dopamina. Mas
estou divagando.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Falava
do cheiro e dos efeitos nada benéficos que ele causa em minha vida
afetiva. Sem entrar muito em detalhes, digamos que, ao seguir os
conselhos de muita gente que dizia “jogue-se, entregue-se, ouse”,
eu esqueci de uma coisa muito importante: as pessoas baseiam-se em
seus olhos e ouvidos. E não sou exatamente uma escolha agradável à
visão de algumas pessoas. Pensando bem, se não fossem os perfumes
que uso, nem meu cheiro seria tolerado!</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Você
não entendeu? Que pena. </span></span>
</div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-80018486578584139522011-09-04T23:48:00.002-02:002011-09-05T00:10:59.543-02:00#7<style type="text/css">
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</style>
<br />
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Fuscas
sempre disparam alguns gatilhos em minha memória. Num dos famosos
casos de falta de pauta de um programa zapeado ao acaso,foi ao ar
uma propaganda de 1965, eu acho, do Fusca, ressaltando que ele era “o
único carro brasileiro com refrigeração a água”. Graças à
referência líquida, dois casos que envolveram eu, meu pai e um
Fusca vieram à tona do nada, me fazendo rir como um bocó, sozinho,
no sofá da sala.</span></span><br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Eu
tinha seis anos. Meu pai, à época um funcionário público que
trabalhava no matadouro municipal, conseguiu, sabe-se lá como, a
permissão para usar um dos carros da frota da secretaria ao qual ele
era subordinado (não me pergunte qual, pois os nomes mudaram muito
de 1976 para cá). Um Fusca branco. Feliz e pimpão, meu pai e mais
dois amigos saíram do expediente já dirigindo a caranga numa sexta
feira com o tanque cheio e algumas ideias na cabeça.</span></span><br />
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Chegando
em casa, meu pai e seus asseclas começaram a se mover num frenesi
coletador: pegaram varas de pescar, aquelas de bambu mesmo, uma
sacola de lona cheia de tralha indefinida de pesca, um lampião a
querosene, herança de meu avô, mais os sanduíches que minha mãe
foi quase que obrigada a fazer com os pães que meu pai comprou. Eu,
ao longe meio que via a movimentação, meio que brincava com meus
“hominhos de doce de banana” (se você nunca os teve é porque
não é tão velho quanto eu) no monte de areia. E tudo terminaria
ali para mim se não fosse a surpreendente frase do pai no final da
arrumação: “Nei, vem <i>com</i> <i>nóis</i>. Cê vai pescar com o pai”.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Surpreso,
olhei inquisidor na direção da mãe, que murmurou um indeciso
“vai”. Me levantei, fui tomar banho (ordem do pai, e com uma
recomendação singela: “vê se não banca o lerdo debaixo do
chuveiro!”), coloquei um short, uma camiseta e meu par de chinelos
e entrei no banco de trás do Fusca, junto com um dos amigos do pai,
um sujeito cujo nome não me lembro mas cheirava à banha que minha
vó usava para guardar as carnes de porco que ela tanto gostava de
fazer. Não sei porquê, mas ao invés de sentir asco, senti fome.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Na
viagem, tentava olhar para a paisagem através do vidro, tentativa
frustrada pela escuridão da tarde que já se adiantava. Me contentei
com os vultos de casas, árvores e a visão das luzes longínquas
acesas nas ruas. Ao chegarmos ao destino, notei que não havia nada
que se parecesse com alguns curso de água corrente; apenas um
apinhado de casas térreas construídas ao largo de uma extensa rua
de terra batida. A voz do meu pai, como um trovão, cortou o breve
silêncio após ter desligado o carro (minha nossa, como aquele Fusca
era barulhento! Fazia algo tipo
rrrruuuuummmm-pocpocpoc-rrrruuuuuummmm... ). </span></span><br />
<br />
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">“Nei, tem pão e suco
aqui na sacola, Fica aqui dentro”. Não entendi nada: se o objetivo
daquela pequena viagem era uma pescaria, por que diabos eu tinha que
ficar trancado ali dentro? Ato contínuo, apareceram uns vultos
femininos indistintos que pegaram meu pai e sus amigos pela mão, não
sem antes olharem o interior do carro; uma delas falou com uma voz
infantilizada incongruente: “olha só que menininho bonitinho!”,
soltando uma risada e levando os três adultos para dentro de uma
daquelas casas. Fiquei sem ação, tanto pela atitude estranha do meu
pai quanto pelo suposto elogio que aquela mulher disparou. </span></span><br />
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Sem
ter muito o que fazer, comi alguns dos sanduíches (mortadela com
aquela linguiça fininha, não sei até hoje o nome daquela
variedade), me deitei no banco e adormeci profundamente. Quando
acordei já estava em casa, ouvindo minha mãe possessa, falando
coisas desconexas entre um xingamento e outro. À época, não
entendi o porquê daquela reação tão extremada. Só depois de
alguns anos e dono de informações mais privilegiadas é que pude
entender o significado de algumas daquelas palavras sem nexo:
Itatinga. Luz vermelha. Mulheres da vida. Meu pai realmente foi
pescar naquele dia. </span></span>
</div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Ele
pegou muitas piranhas.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Três
anos depois, o pai ficou incumbido de levar um Fusca azul para uma
pessoa não especificada. Esse Fusca estava em uma oficina mecânica
perto de casa e esse amigo sem nome pediu ao pai para levar o carro
até o bar do Vando, onde eles se encontrariam e se confraternizariam
bebendo cachaça e comendo aqueles jesus-me-chama entre uma partida
de bocha e outra.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Eu
estava quieto em meu canto, eu juro. De repente ele me chama. “Nei!
Vem, vou te levar pra passear de carro!”. O pior era a falta de
opção; assim como no Brasil desta época, “democracia” era
apenas uma palavra no dicionário. Fui. O Fusca azul até estava com
bom motor, mas os bancos... o da frente tinha uma mola que insistia
em cutucar minha nádega direita. No meio do caminho entre minha casa
e o bar do Vando havia mais dois bares. O pai parou nos dois. Bebeu
nos dois. E a cada enroscada da embreagem eu temia pela minha vida
(tá, parece meio melodramático, mas experimente não cagar nas
calças ao ver a distância entre você e uma pata-de-vaca diminuir
consideravelmente até que o motorista se lembre que lugar de carro é
no asfalto!). Antes do destino final (o bar, não o Elísio!), ele
parou bruscamente ao virar na rua Cerqueira César. Ainda sou capaz
de sentir o gosto do vidro Blindex quando paro pra lembrar do dia.
Bati fortemente o rosto no para-brisa, quase desloquei a coluna. E
ele parou para dar uma mijada!</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Quando
ele desceu, eu imediatamente pulei para o bando de trás e lá
fiquei, me lembrando daquele outro Fusca. Ao invés de uma mulher
exaltando minha fofura, apareceu o pai no vidro. “O que cê tá
fazendo aí, Nei?”. “Vou sentar aqui agora, pai”. “volta pra
frente AGORA!”. Bati o recorde mundial de salto em bando de Fusca.
E quando enfim chegamos ao maldto bar, quase imitei o papa ao descer
do carro.</span></span></div>
<div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;"> Depois
ainda perguntam porque eu não faço questão de aprender a
dirigir...</span></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-25983530386212190002011-09-04T23:42:00.000-02:002011-09-05T00:08:04.194-02:00Sobre as vergonhas engraçadinhas<style type="text/css">
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</style>
<br />
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</style>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Você
já teve o dissabor de alguém, geralmente um parente muito próximo,
ter desencavado para pessoas externas ao convívio familiar fotos
comprometedoras da infância – tipo “pagando bundinha com as
fraldas caindo”, “cara de choro ao ser contrariado por alguma
bobagem” - ou histórias que só fazem sentido em contextos
terrivelmente pessoais? Quem já teve desnudada essas passagens sabe
que, por mais cuca fresca que sejamos, a vergonha é um sentimento
inevitável.</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Mas
se antes estas passagens nada abonadoras costumavam ater-se ao
círculo de amigos íntimos dos pais, o que restringia o vexame aos
bares, igrejas, templos, sinagogas e praças do entorno – e é
MUITA coisa para algo tão vexatório quanto um episódio que envolve
alguma idiossincrasia pueril – elas tomaram de assalto qualquer
pessoa no planeta que tenha acesso a Internet e assista ao YouTube.</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Se
o objetivo inicial era apenas perpetuar a gracinha vergonhosa de uma
criança ou adolescente e mostrá-la, não sem uma nesga de
crueldade, aos parentes apenas com um clique, hoje busca-se a
notoriedade da web. Depois que deram cria a uma criatura chamada
“vídeo viral”, a internet notabilizou-se em esculpir em pedra o
adágio fanfarrão de Andy Warhol. E dá-lhe crianças discutindo
sobre o sentido da vida sob os efeitos do óxido nitroso, bebês
grunhindo gracinhas ininteligíveis, emulando o movimento de pernas
de Beyoncé ou chorando por causa de uma formiguinha morta.</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">O
problema que ninguém consegue visualizar, por estar aparentemente
tão distante, é: e depois? O que a adorável criança fará quando
crescer, ter seus próprios valores sobre o que é engraçado ou não
e ter que conviver à sombra de um vídeo viral? Crianças não são
psicologicamente preparadas para este tipo de exposição
simplesmente por ainda não terem amadurecido – e é por isso que
são CRIANÇAS. Não que eu vislumbre um futuro distópico onde
adultos traumatizados por terem sua intimidade pueril devassada pelo
mundo extravasam sua raiva, frustração ou qualquer reação
Jungiana ou Freudiana que o valha através de atos de extrema
violência. </span></span>
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Esse
seria, acreditem, o melhor dos futuros possíveis. Porque casos assim
são resolvidos rapidamente, seja pela força da lei, seja pela pena
de Talião que todos condenam abertamente mas exultam a cada
reportagem de um programa mundo-cão qualquer. Estas crianças
vilipendiadas em seu direito divino de ter privacidade podem vir a
ser formadores de opinião ou lideres carismáticos, que poerão usar
sua influência e poder para devassar, tripudiar, envergonhar e
lucrar com as vergonhas alheias. E tudo isso com a anuência de uma
geração que se habituou a achar que privacidade é “babaquice”
e que vergonha alheia é engraçado.</span></span></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Ubuntu;"><span style="font-size: medium;">Talvez
fosse a hora de pensarmos mais a longo prazo, sem a urgência que
esta geração tanto preza. Nem todos se sentem confortáveis sendo
motivo de chacota para uma audiência cada vez maior e mais voraz. E
por mais que uma gracinha infantil tenha seu encanto, ele é fugaz
perto dos efeitos imponderáveis do futuro que não tarda a vir.</span></span></div>
Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0Indaiatuba - São Paulo, Brasil-23.08821 -47.2234438-23.205065 -47.381372299999995 -22.971355 -47.0655153tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-58843851671143206742010-01-20T14:33:00.000-02:002010-01-20T14:33:01.069-02:00Skank - Calango<div style="text-align: justify;">Não fui eu quem disse isso, mas o fatos estão aí. 1994 foi um daqueles anos musicalmente marcantes. Se hoje somos reféns, por exemplo, de bandas de rock emo, culpem o Weezer - mas não muito, pois eles são bons. Bandinhas que distorcem guitarras, fingindo ser punk ganhando mesada da mãe? O Green Day e seu Dookie. Também tivemos Oasis, Portishead, Blur, Jeff Buckley.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas aqui nas paragens brazucas tivemos momentos dignos de nota, para o bem e para o mal. Vou me ater a falar sobre um disco em particular, por tê-lo e por gostar muito dele, o segundo do Skank.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Quando os quatro mineiros de Liverpool (ouçam Cosmotron e descubram o que estou falando) lançaram o primeiro CD, ainda em uma época em que CD's eram "coisa de outro mundo", não dei muita atenção. Fora uma versão de Dylan e uma ou outra canção de "protesto", para meus ouvidos eram apenas branquelos queendo fazer reggae e se entregando demais à devoção a mister Marley. Vi uns clipes,ouvi umas coisas nas rádios e foi simplesmente "ok. Próximo".<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ainda bem que existe algo chamado evolução. Provavelmente por serem fãs de Marley, Tosh e outros, também ouviram por tabela vertentes mais desencanadas vindas da Jamaica; os meninos abraçaram o <em>dancehall </em>com toques brazucas e perpetraram onze canções pop que muito cara bom demorou uma década pra compor. Canções como "Amolação" (um libelo corno com um toque de humor cáustico) e "Sam" (espécie de "declaração de princípios" do vocalista e, por tabela, do grupo) dão, em velocidades diferentes, um passeio malemolente pelo "quase samba-reggae".<br />
<br />
"Te ver", uma das mais tocadas do CD, reúne a síncope da Jamaica, os metais resvalando no jazz e uma letra que escancara a herança "Clube da Esquina" de qualquer mineiro nascido depois de 1960, mesmo que inconscientemente. <em>"É como mergulhar no rio e não se molhar/ é como não morrer de frio no gelo polar...". </em><br />
<br />
Alguns críticos chamaram a atual fase do Skank de "amadurecimento a là Roberto Carlos", o que me assustou. Visualizei Samuel Rosa exaltando as mulheres de vestido grená ou algo parecido, mas eles (ainda bem) simplesmente copiaram os grupos <em>mod </em>ingleses (tá bom, mal humorados, copiaram os Beatles!) e seguiram em frente. No "Calango", eles deram uma amostra desse amadurecimento com o, hã, rock-embolada "A cerca": os inevitáveis <em>samplers</em> que grassaram a década de 1990 mas sem os metais das outras faixas e com uma levada brasileira ( se é que posso qualificar um som com um gentílico). Falando em Brasil e no Roberto, a cover de "É proibido fumar" é (minha opinião aqui) primorosa.<br />
<br />
Mas esse CD tem lugar cativo em meu coração por ter uma música que está em meu panteão particular; poucas músicas para mim são perfeitas. Na verdade, acho que 5 ou 6 tem essa (dúbia) honra em meu córtex cerebral. Pois depois de "Esmola", conheci mais um pop perfeito. A guitarra deu um início suave. A bateria deu o tom, um pequeno milagre. O baixo era quase obrigado a alcançar o Elísio dos tambores. Mas o que me matou suavemente foram os metais. Foi arrepio à primeira audição. Quando Samuel entoou os versos, fui intimado a aprender os versos, cantar junto e acender o isqueiro. Para se ter uma ideia, a última vez que senti isso foi quando ouvi "Por isso corro demais" na minha infância. Um passeio pelo paraíso chamado "O beijo e a reza".<br />
<br />
O sol na nuca, e o corpo dela ofusca a luz do sol. E o sol de 1994 brilhou como poucos com esse disco. Mais um dentre tantos essenciais.<br />
<br />
<strong>Álbum:</strong> <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Calango</span><br />
<strong>Artista:</strong> <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Skank</span><br />
<strong>Ano de lançamento:</strong> <span style="font-family: Verdana, sans-serif;">1994</span><br />
<br />
Lista de músicas <a href="http://vagalume.uol.com.br/skank/discografia/calango.html">aqui</a><br />
</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-10414284839241306362009-11-09T20:56:00.000-02:002009-11-09T20:56:55.875-02:00Legião Urbana (1985)<div style="text-align: justify;">Tudo bem, ninguém está olhando. Pode confessar. Nega a todos que o vê compenetrado, sério, focado em sua carreira; bom pai ou boa mãe, quase uma referência entre seus pares, criador de frases pensadas e ponderadas. Enfim, um cidadão respeitado pela sociedade. Mas agora somos só você e eu, não precisa se esconder, não pra mim. Pode dizer: você já foi jovem.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sim, a juventude já correu serelepe por suas veias tão honradas, não? Era inebriante, vívida e vez por outra inadequada e inadequante. Não esconda o sorriso quase envergonhado ao relembrar que um dia você foi paradoxal. Sem as travas da maturidade, o amor que você tanto queria era ao mesmo tempo sufocante e desejado, saudoso e grudento. As lágrimas eram por todas as razões acima, os sorrisos também. E ao verbalizar isso, era com gritos de incompreensão e sussurros de culpa.<br />
</div><div style="text-align: justify;"> <em>Tire suas mãos de mim</em><br />
</div><div style="text-align: justify;"> <em>Eu não pertenço a você</em><br />
</div><div style="text-align: justify;"> <em>Não é me dominando assim</em><br />
</div><div style="text-align: justify;"> <em>Que você vai me entender</em><br />
</div><div style="text-align: justify;"> (...)<br />
</div><div style="text-align: justify;"> <em>Nos perderemos entre monstros</em><br />
</div><div style="text-align: justify;"> <em>Da nossa própria criação</em><br />
</div><div style="text-align: justify;"> <em>Serão noites inteiras</em><br />
</div><div style="text-align: justify;"> <em>Talvez por medo da escuridão</em><br />
</div><div style="text-align: justify;"> (...)<br />
</div><div style="text-align: justify;"> <em>Brigar pra que, se é sem querer?</em>(...)<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Você não entendia, mas queria se fazer entender. O mundo era apenas um grande campo de provas. O maior objetivo nessa época era um vago desejo de mudar o mundo. O mundo! Essa esfera cheia de pessoas tão díspares, e a força que você achava que tinha resumia-se nas frases curtas e na empáfia. Você sabia de tudo, tudo tinha uma resposta. Entusiasmo que contagiava enquanto fogo. De palha.<br />
<em>Não sei o que é direito</em><br />
<em>Só vejo preconceito</em><br />
<em>E a sua roupa nova</em><br />
<em>É só uma roupa nova</em><br />
<br />
E as brigas, eternas como o entusiasmo em mover o mundo. Uma incerteza em ter certeza de... alguma coisa. E quando o sexo entrou na equação, o prazer imediato tornou-se O objetivo. Prazer em correr, para ter um corpo desejável. Prazer em ganhar o primeiro dinheiro, para a primeira balada (ainda chamam assim os encontros regados a música inaudível e bebidas?) e as primeiras pegações. A doçura resiste até a primeira camisinha furada. Mas isso é só um empecilho. O mundo!<br />
<em>Uma menina me ensinou</em><br />
<em>Quase tudo que eu sei</em><br />
<em> Era quase escravidão</em><br />
<em> Mas ela me tratava como um rei</em><br />
<em>(...)</em><br />
<em>Sei que ela terminou</em><br />
<em> O que eu não comecei (...)</em><br />
<em> Ela falou "Você tem medo"</em><br />
<em> Aí eu disse "Quem tem medo é você"</em><br />
<em> Falamos o que não devia</em><br />
<em> Nunca ser dito por ninguém</em>(...)<br />
<br />
Em alguns momentos você tem epifanias não reconhecidas. Afinal, o mundo está mudando graças à sua intervenção. Nem sempre suas ideias são aceitas (na verdade, nenhuma de suas ideais foi adiante... mas isso era apenas questão de tempo) e a cada frustração, um tombo. E no chão, tão confortável, mais ideais criados.<br />
<em>A violência é tão fascinante</em><br />
<em> E nossas vidas são tão normais(...)</em><br />
<br />
<em>E era como se jogassem Space Invaders</em><br />
<em> Perdendo mais dinheiro de muitas maneiras(...)</em><br />
<br />
<em>Parece energia, mas é só distorção</em><br />
<em> E não sabemos se isso é problema</em><br />
<em> Ou se é a solução (...)</em><br />
<br />
Quando você se levantou, o diapasão reverbera na direção do ódio, puro, simples e primitivo. O mundo iria mudar, quer ele queira ou não. Quem era do tempo dos fanzines fazia os mais subversivos panfletos, recheados dos novos signos linguísticos, os palavrões. Você era blasfemo, irônico e anticomercial. Tomando refrigerante e cerveja de grandes corporações e comendo em fast foods.<br />
<br />
<em>Depois de vinte anos na escola</em><br />
<em> Não é difícil aprender</em><br />
<em> Todas as manhas do seu jogo sujo(...)</em><br />
<em> Vamos fazer nosso dever de casa</em><br />
<em> E aí então, vocês vão ver</em><br />
<em> Suas crianças derrubando reis</em><br />
<em> Fazer comédia no cinema com as suas leis(...)</em><br />
<em> Geração Coca-Cola</em><br />
<br />
Súbito, o mundo deixa a órbita de seu umbigo. A namorada, ou namorado. O novo papel dos pais. O dinheiro, agora "rendimentos" ou "dividendos". Planos, bandas, sexo, sexualidade. Preconceitos. Assimilações. Individualidade. Novas famílias.<br />
<br />
<em>Mudaram as estações e nada mudou(...)</em><br />
<em> Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar</em><br />
<em> Que tudo era pra sempre</em><br />
<em> Sem saber que o pra sempre sempre acaba(...)</em><br />
<br />
E num dia, nem sempre tão belo, você amadurece.<br />
<br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><strong>Artista</strong>: Legião Urbana</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><strong>Disco</strong>: Legião Urbana</span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><strong>Ano de lançamento</strong>: 1985</span> <br />
<br />
Lista de músicas <a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Legi%C3%A3o_Urbana_(%C3%A1lbum_de_Legi%C3%A3o_Urbana)">aqui.</a> <br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-12152666633079352742009-10-31T14:14:00.000-02:002009-10-31T14:14:59.507-02:00Arrested Development - Zingalamaduni<div style="text-align: justify;">Nessa vida longa e louca, descobri uma coisa engraçada: não me arrependo de minhas cagadas. Se as fiz, foram todas conscientes. Sabia dos riscos e benefícios, os bônus e ônus. Sempre soube que os frutos de minhas decisões seriam colhidas ou jogadas fora por minha conta e risco. O que não significa que eu nunca me arrependa.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Como eu disse, quando as decisões foram ditadas pela consciência, mato no peito e chuto pro gol, embora seja um pálido reflexo de jogador de futebol (no popular, perna-de-pau). O problema é quando faço algo ditado pelo acaso, ou pela empolgação, das duas, uma: ou descubro novas fórmulas da pólvora ou crio chicotes para meu autoflagelo. Pois em meados de minha adolescência fiz algo que me arrependo profundamente: apresentei o rap ao meu irmão.<br />
<br />
Não sou tão seminal; não posso me gabar de ter conhecido Grandmaster Flash, mas me lembro de <em>"Basketball"</em> do decano Kurtis Blow, <em>"I'm a ho</em>" do Whodini e de ter pirado por ouvir excertos de outras músicas criando outras, faladas e com DNA funk - depois é que descobri o anglicismo <em>sampler</em>. Quando meu irmão mais novo era apenas um projeto de menino, fiz com que ele ouvisse a Bandeirantes FM (acreditem, antes da proliferação das rádios piratas e de outras ondas concorrentes, como as ondas dos telefones celulares, ouvia-se as FM's de São Paulo, capital, claramente aqui em Indaiatuba) e que ouvisse a melhor seleção de <em>black music</em> disponível para ouvidos leigos até então.<br />
<br />
Não poderia imaginar o quanto ele gostaria de tudo aquilo. Claro que no começo havia uma preocupação em se fazer algo com o mínimo de conteúdo, como os gringos Eric B & Rakim, Kool Moe Dee, Run DMC e mais tarde os heróis brazucas da São Bento (salve, Thaíde). Infelizmente, uma das vertentes tornou-se mais evidente do que outras pelo mesmo motivo que outras manifestações culturais, políticas e religiosas se tornaram evidentes: a polêmica. O chamado <em>gansta rap</em>, capítaneado no final da década de 1980 por nomes como Ice-T e N.W.A., reduziu os arranjos limpos e funkeados por um minimalismo que poderia ter sido genial em alguns momentos (não dá pra dizer que Dr. Dre seja "apenas um rapper sem noção") mas que graças à repetição ad nauseaum tornou-se chato e aos mimos ditos com a boca cheia pelos rappers. Os manos virarram <em>niggas</em>, as minas viraram <em>bitches</em>, os desafetos juntaram-se todos num uníssono <em>motherfucker</em> e isso, graças a uma sucessão de fatores que não cabe a mim dissecar aqui, virou a nova fonte de renda de muitos "cantores". Se hoje excrescências como 50 Cent, Flo Rida, Chamillionaire e quetais são ricos e musicalmente influentes, agradeça a quem tinha por objetivo mostrar a vida estilizadamente violenta dos guetos americanos.<br />
<br />
Tarde demais, tentei mostrar que havia, sim, rap que poderia combinar as raízes sólidas em que foram originadas com uma mensagem menos belicosa; talvez um pouco proselitista, mas com o uso de alguns neurônios além dos que formulam xingamentos. um dos CD's que comprei para comprovar isso foi o segundo disco de estúdio do grupo Arrested Development.<br />
<br />
O respeito começava no encarte, com todas as letras. Escritas pelo rapper Speech (nome de guerra de Todd Thomas), com eventuais colaborações, mostrava uma preocupação em mostrar o orgulho em ter a pele negra, ter raízes africanas e fazer com que isso não se tornasse discurso panfletário, embora nisso, até por causa dos temas, fracassasse fragorosamente. A sorte dos ouvintes eventuais é que ele é um produtor bastante competente. O uso de samplers econômicos e inteligentes (como nas minhas favoritas <em>"Africa's</em> <em>inside me"</em> e <em>"Ease my mind</em>") e <em>scratches</em> precisos fez o disco ser palatável a quem achava que rap só exortava a posse de armas, mulheres em trajes sumários e palavrões.<br />
<br />
Infelizmente dois fatores foram determinantes. Se não eclipsaram totalmente o álbum, não permitiram que ele brilhasse como ele merecia: o ano em que ele foi lançado (1994 foi um dos mais férteis anos da indústria fonográfica mundial) e a preguiça mental que não permitia que grupos como Digable Planets, A Tribe Called Quest e outros fossem assimilados pelos niggas e pelas bitches, ávidos pela grana fácil trazida pela cooptação ao mainstream do estilo bandido dos ganstas. E atrás desse trio foi meu irmão que, se ainda consegue ouvir "In the sunshine" - a preferida dele no CD - e pirar o cabeção, acha graça em grupelhos de rap que proliferam na 105 FM que acham o máximo falar dos manos do X enquanto acham que falar palavrão é ser o novo Mano Brown.<br />
<br />
Acho que vou queimar no fogo do inferno. Ao som de Eminen. Vou tentar negociar para ver se posso pelo menos ouvir 2Pac, na fase onde ele amadurece e faz gansta rap com método e conteúdo. Tão bom que é morto por causa disso. Bem, isso e por outras tretas, né?<br />
<br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><strong>Arrested Development</strong> - <em>Zingalamaduni</em></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><strong>Gravadora:</strong> <em>Chrysalis - EMI</em></span><br />
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><strong>Ano</strong>: <em>1994</em></span><br />
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Lista de músicas <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/Zingalamaduni">aqui.</a><br />
</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-68769274036114009302009-10-23T19:35:00.000-02:002009-10-23T19:35:52.404-02:00Sultões do suingue. Ou balada de um reino em pedaços.<div style="text-align: justify;">Há muito tempo, em uma era longínqua, houve uma entidade onipresente e poderosa, dona de vozes e sons indistintos chamada Indústria Fonográfica. Representada por gravadoras e selos, ela nos provia com música de maior ou menor qualidade e mais do que isso: criava ídolos, ditava os ritmos, conduzia carreiras (musicais e psicotrópicas) e vendia com uma eficiência tudo isso, embalado em capas vistosas e arranjos bem produzidos. Ou não, dependendo da moda em voga.<br />
<br />
Décadas de domínio absoluto sobre o que poderia ou não ser ouvido, curtido, gostado criou gigantes poderosas e mundiais (alguém se lembra de nomes e siglas como CBS, PolyGram, A&M, Parlophone, Polydor, RCA e quetais?). Sucesso tão grandioso gerou acomodação; o único trabalho que essas empresas tinham era cooptar quem ainda insistia em ser "independente", "revolucionário" ou "visionário" para seus selos "independentes", "revolucionários" e "visionários". Quando um <a href="http://en.wikipedia.org/wiki/James_Russell">americano</a> quis transformar o que era analógico em digital, a Indústria Fonográfica viu apenas os cifrões. Esse é o problema de quem é grande demais: esquecer de olhar para baixo, para os lados. E para cima.<br />
<br />
Da "versão digital" do LP à compactação digital de uma música, poucas mas decisivas décadas. E quem se autointitulava dorminhoco (Napster) conseguiu acordar um gigante, só para solapá-lo com uma pedrada chamada MP3. Hoje ela sobrevive graças às fusões, aos astros presos por contratos pré-digitalização e à RIAA e seus bem pagos advogados. O gigante teve que diminuir de tamanho e sobreviver diminuindo suas ambições - lembra-se que era "fácil" para um disco vender mais de um milhão de cópias? Hoje não há mais espaço para fenômenos mundiais como <em>Thriller</em> ou locais como <em>Mamonas Assassinas. </em><br />
<br />
Enquanto isso, consumi muito vinho desse gigante. Na época de ouro, poucos mas marcantes vinis (guardo na memória - e apenas lá, pois meu pai trocou meus LP's por pinga - discos como <em>Bring on The Night</em> do Sting, <em>Revenge</em> dos Eurythmics, <em>Roberto Carlos Canta para a Juventude</em> e <em>Faith</em> do George Michael) embalaram meu saudoso system Gradiente. E nos estertores do CD, alguns rompantes ora felizes ora desastrosos (um CD do padre Marcelo Rossi, ainda bem que para presente).<br />
<br />
Agora esses CD's jazem em um canto em cima de minha cômoda, sem um tocador para eles (aconteceu, hã, um imprevisto com meu rádio com CD player. Envolveu um sobrinho, um cachorro e um dia de chuva. Não pergunte). Num belo dia da semana passada, ao pegar meu dicionário para consultar o significado da palavra "almofariz", os vi empilhados uns sobre os outros. Do nada, algumas frases cantadas foram murmuradas. "No canto da sala, no seu holograma...", "If you never say goodbye to the best things...", "We live in a beautiful world...", "Que isso é o fim de tudo, e é isso que eu vim dizer...".<br />
<br />
Atalhos para memórias. Como cheiros, sabores, palavras ditas. "Por que não escrever sobre isso?", pensei. Afinal, nem tenho tantos discos assim... Como meu blog anda abandonado, vivendo de flashbacks editados - meu, se eu copiar e colar alguns textos de meus diários antigos, não vai prestar - acho que vou colocar em prática minha mania de tergiversar sobre o que ouço. Método, contudo; primeiro catalogarei os CD's do jeito que eu gosto. Confesso que tenho um pré-TOC: gosto de colocar coisas em ordem, nada patológico, mas digamos que quando estou no arquivo do posto de saúde, guardando os prontuários, estou no céu. Cheio de ácaros, mas longe da TPM eterna. Mas divago.<br />
<br />
Depois de tudo catalogado bonitinho - tenho um caderno perfeito, todo maníaco por papelaria tem - vou viajar. O pó e o brilho vão me colocar lá no alto. Hã... parece que estou falando de cocaína, né? Refazendo: vou ouvir meus velhos discos e ver o que eles ainda me dizem, além dos versos.<br />
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O gigante que perdeu a altura não me olhou. Sorte minha. <br />
</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-47954741661489473512009-10-17T17:22:00.000-02:002009-10-17T17:22:35.046-02:00Mais uma velharia<strong>(Texto escrito em 02 de junho de 2004)</strong><br />
<br />
Refém da tevê aberta que sou, restrinjo meus conhecimentos televisivos ao que as majors querem me mostrar. Entre uma entrevista do Jô (que para mim perdeu a pouca relevância que tinha graças ao ego do menino) e um filme ora brilhante, ora tapa-buraco (ninguém merece ver pela enésima vez filme do brócoli metido a ser humano Chuck Norris ou do brucutu com alma de asno Steven Seagal - no máximo, servem como programas humorísticos involuntários) descobri que o SBT do seu Silvio preenche as madrugadas com séries bem bacanas. Nem sempre dá para assistir, já que chego entre uma e meia e 1:45 da madrugada e a programação do SBT é errática, mas já elegi minha favorita: A Sete Palmos (Six Feet Under).<br />
<br />
Ela me cativou com o tema de abertura, uma beleza (se não me engano é do Thomas Newton Howard) aliado às imagens da abertura, plasticamente belas. Os roteiros raramente fazem concessões (afinal, é uma produção HBO, que adora chutar o pau da barraca. Quem assitiu OZ sabe do que falo), e são bem amarrados, com drama e humor negro bem adultos. Alan Ball é o cara.<br />
<br />
O que mais me chamou a atenção foi o destaque a algo que adoramos deixar para escanteio: a morte. Ela não é tratada com a reverência ou o medo habituais, e sim como um negócio, e bem lucrativo. Sob o cinismo da família Fischer (espero ter grafado corretamente), há a consciência da inevitabilidade e a ganância que um negócio tão lucrativo traz - afinal, todos nós vamos morrer um dia e há uma cultura de respeito ao féretro. Deliciosa uma cena em que o mais velho dos irmãos (não consegui gravar o nome dele - aliás, de ninguém ainda) se entusiasma ao saber que houve um terrível acidente de ônibus e que dois dos corpos podem vir a ser "potenciais clientes". O mais novo o repreende: "contenha seu entusiasmo". Mórbido, mas hilário.<br />
<br />
É engraçado como negamos o fato mais certo de nossas vidas de forma tão veemente. Nossa mortalidade nos assusta e por isso criamos todo um aparato religioso para nos consolar. Seja o Paraíso cristão, a reencarnação budista (ou kardecista, não sei ao certo) ou a promessa da ressurreição, muitos se refugiam na idéia de um novo começo após nossa passagem. Alheia a tudo isso, a morte apenas aguarda, sábia, o dia em que nos leva, sem direito a apelação. <br />
<br />
<br />
Por algum tempo isso me angustiou porfundamente, e confesso que há dias que o medo do desconhecido é fortíssimo, principalmente à noite, deitado no escuro. Hoje em dia ao abrir os olhos e verificar que estou vivo, apenas murmuro "lá vamos nós de novo" e me ponho de pé, doido pra me livrar do bafo matutino.Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-12974567741506913982009-10-05T19:02:00.000-02:002009-10-05T19:02:37.448-02:00Poeira e marmotasUm hábito saudável: caminhar. Quando tudo parece modorrento, quando a voz dos parentes tornam-se chiados de estática, nada como a rua. Rever um pedaço que, por pura falta de interesse, não ia há mais de cinco anos (e olha que moro praticamente do lado): o vão livre no meio das CECAP’s.<br />
<br />
Vão livre há cinco anos. Agora, além do posto de saúde e da escola estadual, temos algumas praças, campos de areia, uma igreja – isso mesmo, uma igreja! – construída parte em alvenaria, parte com toras de (creio eu) eucalipto, com vitrais até bonitos. Foi estranho ver um lugar desconhecido tão próximo de mim.<br />
<br />
Reencontro um de meus colegas de meu antigo emprego. Engraçado como todos que encontrei dizem basicamente a mesma coisa – e aqui peço licença para pincelar minha origem caipira, citando uma famosa canção de Tião Carreiro e Pardinho: a coisa tá feia, a coisa tá preta/ quem não for filho de Deus, tá na unha do capeta. Depois de minha saída, uma onda de demissões assolou a empresa, e todos citam a ingerência do senhor diretor industrial. Se serve como consolo ao meu atual status operacional, pulei fora no momento exato.<br />
<br />
Se você quiser saber como a chuva tem feito falta aqui na cidade, é só passear perto da Filtros Mann, onde há um enorme descampado e verificar a poeira que um eventual carro levanta quando passa. Ou nem isso; basta pisar e ver o pó levantar. Essa cidade precisa de um pouco de água lá de cima. Assim meu cérebro não brinca comigo, me fazendo pensar asneira.<br />
<br />
Já pararam para pensar quanta história há num punhado de poeira? Não se trata apenas partículas de terra e areia; temos de coisas tão aparentemente bucólicas, como pólen e cascas de árvore quanto restos mortais diversos: ácaros, ossos decompostos, pêlos e pele. Talvez ao espanarmos o pó, além dos habituais elogios a nossa higiene, estejamos brincando com memórias de passos dados, amores consumados, lágrimas amargas ou de alívio. As nuvens de poeira parecem clamar "lembrem-se de nós". Pena que elas sujem tanto!<br />
<br />
Será que o pó que somos obrigados a respirar nos causa o famoso dejá vù? Sim, faz sentido. Quem sabe ao aspirar, também não sejamos impregnados de fragmentos de lembranças de quem já se foi? Pássaros que migram de verão em verão, homens e mulheres que ao partirem para o sono eterno lembram de momentos felizes em um determinado lugar. <br />
<br />
Nota mental: nunca mais comer cogumelos que nascem em estrume de vaca!<br />
<br />
<strong>(Texto escrito em 26/09/2003)</strong><br />
<br />
<hr />Foram vários os motivos, mas há muito não dedico meu tempo para assistir um filme da Sessão da Tarde. Quando eu trabalhava, ou eram as horas extras ou meu sono vespertino. Agora que estou ocioso não o fazia por desinteresse; preferia minhas caminhadas pela cidade ou o vazio de minha planilha de texto no PC. Hoje, contudo, choveu, esfriou e a Globo me deu um baita presente. Um filme que por razões que não consigo verbalizar adoro de paixão: Feitiço do tempo (no original, Groundhog day).<br />
<br />
<br />
No filme, um meteorologista de tevê arrogante e presunçoso, interpretado com a competência habitual por Bill Murray, é escalado pela quarta vez para cobrir o Dia da Marmota numa cidadezinha perto de Pittsburgh. É uma daquelas idiotices de americano: no dia 2 de fevereiro uns gajos esperam que uma marmota olhe para sua própria sombra e vaticine, ou não, o fim da temporada de nevascas. Com ele vão o indefectível cameraman(esqueci o nome do ator) e uma produtora novata, vivida por Andie MacDowell – adoro essa guria.<br />
<br />
O tal repórter tripudia os festejos e não vê a hora de sair daquela "cidade de caipiras" mas a nevasca que, segundo sua previsão, só chegaria no dia seguinte, assola a tarde e os impede de continuar a volta a Pittsburgh. Não tendo saída, resolvem pernoitar na cidade da marmota. <br />
<br />
Só que ele descobre, graças a uma misteriosa série de "coincidências", que ele está preso não só na cidade, mas no dia 2 de fevereiro. Isso mesmo: o dia repete-se indefinidamente e ele não sabe a princípio como agir. No começo ele tenta se aproveitar da ausência de conseqüências de seus atos no futuro, já que o futuro não chegava. Mas ele descobre a paixão, a inevitabilidade, e a capacidade que temos em jogar fora oportunidades que a vida nos oferece. <br />
<br />
Minha rotina sempre me fez lembrar desse filme com carinho. Não seria essa rotina um Dia da Marmota eterno também? Sabe, de certa forma sabemos o que vai nos acontecer, haja vista que, com as exceções de praxe (pois a vida é dinâmica apesar de nossa mesmice – e por favor, não interpretem isso como um manifesto antimonotonia ou algo assim; a vida dos seres humanos normais é sempre mais do mesmo, não adianta quantos bungee jumps façamos), da alvorada ao crepúsculo fazemos basicamente a mesma coisa. <br />
<br />
O que diferencia um dia do outro é o que apreendemos. Podemos nos afundar numa vida regada a emoções baratas (como o Murray no início do filme) ou tentar fazer algo para nos aprimorar, nem que seja tratar melhor os seres humanos ao nosso redor (não cheguemos ao extremo do personagem do filme, que aprendeu tocar piano, esculpir gelo, francês e poesia francesa e mecânica no dia interminável, mas que pelo menos saibamos aprender). Um dia como outro qualquer sempre tem algo escondido debaixo da sombra das árvores.<br />
<br />
Hoje aprendi mais uma coisa. É muito bom ter amigos que realmente acrescentem conhecimento e amor em nossa vida, como com o y, que me presenteou com uma descoberta intelectual de valor inestimável (os artigos da guria – desculpem-me, esqueci o nome dela – na revista TPM).<br />
É muito bom sorrir sob a chuva.<br />
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<strong>(Texto escrito em 17/09/2003. Edições autorizadas pelo autor. Um dia explico o porquê de tantas edições)</strong>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-30239537758112425082009-10-02T21:34:00.000-02:002009-10-02T21:34:50.987-02:00Gavetas esquecidasEstá decidido: quando eu crescer, quero ser personagem do Manoel Carlos. O coroa até coloca uns conflitos e dramas na trama, porém o que sobressai é o savoir faire eterno dos personagens. São moradores do Leblon, Copacabana, Leme, que caminham pela praia de manhã e tomam cafés da manhã nababescos. Praticam esportes, freqüentam academias e festas, estão sempre tomando vinho, uísque. Moram em hotéis, desfilam pela noite, planejam viagens para o exterior. E as empregadas? Bah, se minha mãe estivesse viva rolaria no chão de tanto rir com as incongruências.<br />
<br />
Não é à toa que novelas tem tamanha aceitação entre o povo desprovido de esperança. Essa sim, é a catarse do povão; ver uma violência que ele sabe que será punida, torcer pelo bonitão ou pela gostosona, chorar pela morte comovente, discutir com a profundidade de uma poça d’água temas polêmicos. Ratinho, com aquele programinha, fazia coisa semelhante, até que o grotesco tomou ares fantasiosos demais e foi abandonado. Para que ver "atores" simulando porrada quando é mais divertido ver as raquetadas do fulano?<br />
<br />
Televisão serve apenas para uma coisa, pelo menos para mim: me lamentar por não conseguir ter opções mais interessantes. <br />
<strong>(Trecho de um texto de 25 de setembro de 2003)<br />
</strong><br />
<br />
<hr />Muitas coisas me intimidam. Isso é saudável, pois não me acomodo em minhas parcas vitórias e nunca deixo de tentar aprender o que a vida me ensina. A vida é uma professora até cruel, mas justíssima; nos dá todo o espectro caleidoscópico para que possamos ter a chance de viver pra valer (sim, citando a tal musiquinha. Não esperem críticas da razão pura de mim). A intimidação sempre teve um papel pejorativo em minha jornada por isso a superestimava. Devagar com o andor, dizem os sábios.<br />
<br />
<br />
O tédio dos meus dias, por exemplo. Como mantenho um blog, espero sempre um acontecimento minimamente emblemático ou um pensamento mais profundo sobre um chocolate que como para que possa escrever. Isso, fora elogios exagerados ao modo que escrevo, tendem a me intimidar, o que é uma tremenda bobagem.<br />
<br />
Essa intimidação pressupõe uma obrigação. Não sou obrigado a postar algo no formato x ou y, posto por puro prazer. Já disse isso várias vezes: gosto de escrever, isso nunca será um sacrifício ou uma obrigação e nenhuma palavra poderá mudar isso. Fico muito feliz em ver que consigo ser compreendido porém se meu imenso prazer em brincar com as frases não vier primeiro, meu blog perderá a razão de ser. <br />
<br />
Quando trabalho, o faço pela obrigação de ter dinheiro. Me relaciono com quem não gosto por educação e por não gostar de conflitos desnecessários e desgastantes. Ouço a música "que o povo gosta" compulsoriamente. As únicas coisas que faço por puro prazer tem que proporcionar prazer. Conversar com o y, com o ByM, trocar figurinhas no sistema de comentários dos blogs do Marcelo e do Emerson, ouvir o senhor R. Escrever. Escrever.<br />
<br />
<strong>(Trecho de um texto escrito em 24 de setembro de 2003. Editado com permissão do autor, ou seja, eu mesmo)</strong>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-77008799359289221242009-10-01T22:10:00.000-02:002009-10-01T22:10:21.424-02:00O sino que ela toca?Antes de Xuxa aparecer com mais um fiasco (quem, em sã consciência, ainda dá um programa infantil para aquela mulher egocêntrica?), havia a sessão de desenhos apresentados por seis meninas, um em cada dia da semana, chamada TV Globinho. Havia poucos desenhos realmente bons (e antes que algum incauto me chame de vagabundo, gostaria de lembrar que meu horário de trabalho é das 14:45 à meia noite e meia), mas um deles me atraía por provocar lembranças férteis de meus anos infantis e ingênuos: o Pica-Pau (Woody Woodpecker).<br />
<br />
<br />
Depois de anos no SBT, por motivos que permanecem um mistério para mim, a Vênus Platinada adquiriu os direitos de transmissão do cartoon, incluída aí a terrível fase "Pé-de-Pano", apelido que eu e meu irmão demos aos desenhos feitos na década de 1960, creio eu. Mas isso não importou, pelo menos até a exibição de um episódio em particular.<br />
<br />
O desenho se chama O maluco na praia (Nut in the beach), creio eu. Era mais um daqueles festivais nonsense com a participação do meu personagem secundário favorito, o Leôncio (Wally Walrus). Confesso que tinha uma quedinha por ele (ei, o pessoal do e-zine ZeroZen acha que a Smurfette "dá um caldo", por isso não me recriminem). <br />
<br />
O episódio seguia seu curso, quando de repente, numa cena, há um brusco corte. Como o desenho é beeem anitgo, pensei ser uma falha normal. Porém, mais adiante, mais um corte brusco, dessa vez de uma parte que se alojou em minha memória graças à canção que o Pica-Pau entoava. <br />
<br />
Eu não entendi de imediato, mas ao me lembrar da canção, tudo fez sentido. Ele canta uma trovinha popular americana, que é mais ou menos assim: <br />
<br />
<em>My bonnie lies over the ocean</em><br />
<em>My bonnie lies over the sea</em><br />
<em>My bonnie lies over the ocean</em><br />
<em>Oh, bring back my bonnie for me</em><br />
<br />
A única explicação possível para tamanho disparate: alguém da alta cúpula da Globo simplesmente mandou editar essa parte por causa da semelhança fonética entre bonnie e Boni, o ex-todo-poderoso da emissora. Como no final a canção pede pra trazer de volta my bonnie, algum novo chefão rancoroso e ciumento deve ter sentido os cornos doerem.<br />
<br />
Não é ridículo até que ponto um ego sem controle pode arruinar uma boa lembrança? Nem na emissora concorrente, onde, de certa forma, farioa mais sentido essa "censura", houve essa supressão. Pensando bem, é perfeitamente compreensível a insistência em trazer de volta a "Rainha dos baixinhos"...<br />
<br />
<hr /><br />
Há duas coisas que adoro nos novos televisores: as teclas SAP e Closed Caption. Elas permitem que eu assista diversos filmes com som original e com legendas (meu Inglês não serve nem pra falar Big Mac), com um atrativo extra: um invlountário humor vindo das descrições dos sons que acompanham a cena. Tudo bem, o CC é um recurso para quem tem problemas auditivos, mas é o máximo quando leio "fundo musical triste", "música agitada", "zunidos macabros"...<br />
<br />
Houve um dia singular, contudo. Esatava assistindo um episódio da série 24 Horas e chegou a hora do comercial. Nada demais, era a hora do xixi, do copo d'água. Ao voltar, estava passando um comercial da cerveja Kaiser, quando eles tentavam enganar o público, dizendo que a bebida estava com "novo sabor". Cerveja com novo sabor? Qual? Garapa com groselha? Francamente... Mas enfim. Era um daqueles típicos comercias "bebida que cai no copo como uma onda" com um BGM que alguns publicitários denominariam "vibrante". Já tinha visto esse comercial antes e não estava muito atento, quando de repente, no final, quando alguém sussurrava antes do obrigatório "Aprecie com moderação", o closed caption entra em ação, escrevendo o que o fulano suussurrava:<br />
<br />
<em>Love is just the bell that she rings...</em><br />
<br />
Meu queixo caiu. Murmurei um "hã?" estupefato. Por que alguém teria o trabalho de utilizar o CC num comercial, e numa frase em Inglês totalmente fora do contexto? O produto anunciado era cerveja, não amor ou sinos. <br />
<br />
Seria uma evocação demoníaca? Um trabalho de hipnose coletiva? Bem, se for, não deu certo. Continuo tomando cerveja apenas duas vezes por ano e a Nova Schin disputa o terceiro lugar com a Antarctica com chutes no saco e dedo no olho.<br />
<br />
E, definitivamente, o amor é muito mais barulhento que um sino.<br />
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<strong>(Texto escrito em 21 de maio de 2005)</strong>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-40384742868036518662009-09-23T23:37:00.000-02:002009-09-23T23:37:27.531-02:00Vinte e três<div style="text-align: justify;">Da luta que foi ter meu Atari à luta que é sobreviver com a merreca que a prefeitura me paga, se foram 23 anos. No início desse tempo eu estava descobrindo o que era rock, por que diabos eu tinha que saber quem era Mem de Sá e o que eram capitanias hereditárias. Eu era apenas um sujeito interiorano alienado, querendo o supracitado videogame e um par de tênis "de marca", qualquer uma que não fosse Motoca, Montreal, Kichute ou Conga.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nesses 23 anos, eu tive uma terapia de choque musical. Das duplas sertanejas que ouvia e dos cantores populares com quem fazia coro debaixo do chuveiro (Minha interpretação de "Eu vou tirar você desse lugar" merece destaque), passei para a chamada Black Music que ouvia na maior novidade desde a caneta Pilot, a rádio FM, mais especificamente a Bandeirantes - antes de reduzir seu nome e seus neurônios. Ou o chamado "rock", que nada mais era que a versão pop das guitarras. Pra se ter ideia, eu conheci os Beatles não com seus hinos iê-iê-iê ou suas psicodelias, mas com os delírios bregas "Ob-la-di, ob-la-da" e "Lady Madonna". E debaixo do chuveiro comecei a treinar embromation com a versão de Sting para "Eu vou tirar...", chamada "Roxanne".<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Foi durante essas duas décadas que deixei a vida medíocre que minha família apresentou a mim tomar conta por pura inação. Tive chance de cursar o SENAI, quando isso ainda era algo abonador. Meu tio não me apoiou e não tive vontade de lutar com meus próprios recusros. Quando as dificuldades em continuar estudando se tornaram muros, ao invés de escalá-los preferi dizer que era muito difícil transpô-los. Mas nem tudo foi tão ruim: conheci Shakeaspeare, pelo menos algumas frases. Li Drummond, mas não me peça pra recitar. Aprendi a ser só sem que isso me deixasse amargo. Desenvolvi um bom nível de tolerância às adversidades, porém por muito tempo não soube lutar contra elas, pelo menos não com as armas certas.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Quando enfim tive discernimento, já era tarde. Não cursei faculdade nenhuma, passei de emprego em emprego sem galgar postos mais altos. Meus sonhos de consumo eram maiores que minhas aspirações pessoais, a morte para quem almeja ter mais que um futuro promissor. Agora sei que gosto de música com levada rocker, guitarras funk, piano jazzy e vocais diáfanos (caraca, pareço um daqueles críticos da Bizz!). Desenvolvi um senso de humor inoportuno e sem graça. Descobri que gosto de sorvete de pistache e isso dá um trabalho do cão, pois a maioria gosta ou de morango ou de chocolate, ou uma mistura dos dois. Aprendi algumas palavras em inglês, outras em espanhol e muitas na minha própria língua. Tornei público meus preconceitos e aceitei cada um deles como os filhos que jamais terei.<br />
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23 anos depois, volto a ver a vida sob um retrospecto um pouco mais claro. Cínico, nada inteligente, um bocado arguto em alguns momentos. Com o espaço de praxe para os arrependimentos e as brechas para novos acertos e erros. Poderia ser um desrespeitado professor de Português, por exemplo. Um frustrado jornalista. Um feliz dicionarista. Uma celebridade efêmera de algum programa mundo-cão.<br />
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Sou apenas um blogueiro ocasional, que por enquanto também é funcionário público, com nada além de um canudo do ensino médio conseguido em uma eliminação de matérias após uma frustrante temporada em um EJA (Educação para Jovens e Adultos), que tinha versões falastronas, bêbadas, sexistas, conformistas e incapazes de querer algo mais que "uma boa nota" de mim mesmo. Tenho um arremedo de família, pouco respeito dos meus pares, alguns carnês não pagos e uma alegria insana e não justificada toda vez que me levanto cedo para ir ao trabalho.<br />
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Respiro meus desejos e espero os próximos 23 anos, já velho demais para exigir algo mais do que um Atari e um par de chinelos.<br />
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(Só escrevi isso porque toda vez que leio uma postagem do <a href="http://www.rafael.galvao.org/">Rafael Galvão</a>, me sinto o maior troço de merda do Universo. Meus sinceros respeitos por você ser tão brilhante em suas opiniões, principalmente às que divergem das minhas, e por ser o que eu poderia ter sido se eu não fosse tão... eu.) <br />
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</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-63779836772177260582009-09-17T20:45:00.000-02:002009-09-17T20:45:34.837-02:00Sem medo não há vida<div style="text-align: justify;">Morbidez, de acordo com o dicionário, é qualidade do que é enfermo, doente. Não sei se minha nova idade tem algo a ver com isso, mas de uns tempos pra cá tenho pensado muito na morte. <br />
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Calma. Antes que pensem que vieram a mim impulsos suicidas inconvenientes - vamos direto ao ponto: suicídio é burrice. Por que adiantar algo que inevitavelmente vai nos acontecer, quer nós queiramos ou não? - , apenas estou me dando conta dessa loucura efêmera e viciante que é a vida. E me dou conta disso vendo a morte de perto.<br />
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Primeiro, a morte da inocência. O mundo era vívido, cheio de bonecos em sépia, culpa da televisão preto-e-branco e desejos pueris por um amigo imaginário, uma goma de mascar de hortelã e tampas de lata de cera usadas como "discos voadores" (nem sabia que o neologismo <i>frisbee</i> existia). Eis que um dia descobre-se a vida com seus desejos sexuais, sonhos de consumo mais complexos e frasese com duplo sentido insuspeitos. Jogamos o punhado de terra na vala e vemos o esquife descer, chamando isso de maturidade.<br />
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Aí os projetos e ilusões morrem a cada currículo não lido, a cada nota ruim na escola, a cada frase preconceituosa. Mais um esquife, e o que resta, além do caule de uma gérbera, é um cadinho de sentimentos que pode se tornar cinismo, revolta, permissividade, passividade... <br />
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Para quem ainda consegue sobreviver e ser uma pessoa dita "normal", com lembranças e algumas ambições, vê a Morte, aquela com M maiúsculo (desde que vi a criação de Neil Gaiman, ela agora é para mim a garota gótica com o Ankh pendurado). Eu vejo a Morte quando alguma figura pública deixa o plano físico e se torna imagens de arquivo.<br />
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Dia desses, estava conversando com minha irmã e disse "o dia que eu ouvir que o Cid Moreira morrer ,algo em mim vai morrer até que meu dia chegue". Elegi o apresentador e locutor por associação de ideias (estávamos assistindo ao Jornal Nacional), mas ela me falava do estranhamento em falar do Michael Jackson como mais uma personalidade morta.<br />
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Não digo que a morte dele não tenha me causado espécie; o que diluiu o impacto dela foi o circo de horrores midiático que a elegia e o posterior funeral se transformaram. Porém me lembrei de mortes que me fizeram sentir mais perto daquela angústia inexplicável. Como a morte do Peter Ustinov. Do Peter Sellers. Do Ulysses Guimarães. Da Lillian Lemmertz. Da Dina Sfat. Aquele tipo de personalidade que aparentemente não te causa nenhum frisson quando está lá, cantando, atuando, pedindo votos ou o que quer que seja, mas quando se vai, solta-se um "nossa, fulano morreu", como se eles fossem, por intervenção de suas exposições quase onipresentes, destnados à imortalidade.<br />
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No dia 15 de setembro, mais um desses personagens "onipresentes" morreu. Talvez a culpa dessa presença fossem as reprises quase mensais de <i>Ghost</i>. Ou a adoração de minha irmã pelo filme <i>Dirty Dancing</i> - ela sempre se arrepia ao ver o número de dança final com Jennifer Grey.Ou minha implicância com a overdose de canstrice de <i>Caçadores de Emoção</i> (fala sério, Keanu Reeves, agente do FBI surfista? Gary Busey?). O fato é que Patrick Swayze era um porto seguro. Alguém que sempre estaria lá para que eu pudesse destilar meu cinismo ou fazer um comentário nada abalizado sobre qualquer coisa. <br />
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Não sei o que me deu. Ao me deitar naquela noite, até Hercule Poirot, ficção pura, visitou meus pensamentos. E Agatha Christie. David Niven. Renato Russo. Rubem Braga. Vi aquela representação do Gaiman. E dormi um sono pesado, sem sonhos depois do meu peito ser apertado por um calhamaço de inúteis angústias. <br />
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O engraçado é que a vida continuou no dia seguinte.</div>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-41612629344522303172009-09-04T12:19:00.001-02:002009-09-04T14:26:22.861-02:00É só um número, não é mesmo?<div style="text-align: justify;">No dia 27 de agosto, completei 40 anos. Datas redondas costumam ser mais visadas que outras, porém se dependesse unicamente de mim, seria apenas mais um dia, como nos anos anteriores. O grande problema é que o número quarenta também chegou a algumas "instituições" nesse ano. Resultado: se eu olhasse a televisão, lá estava o número. Em algumas camisetas, um quarenta enorme. Nos jornais. Na internet. A internet. Isso porque eu cresci ouvindo "1969 foi um ano sem graça".<br />
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Neil Armstrong dando o pequeno passo. O seu Internê, hoje uma onipresença. Cid, Sérgio, William e Fátima dando boa noite. O avô do sistema Linux. Os manos muito loucos se enlameando. E regionalmente, a autarquia de água e esgoto - nada mal para uma cidade onde, na década de 1970 e em parte da de 1980, ainda se buscava água na bica e nem fazíamos ideia do significado prático das palavras "saneamento básico". E minha tentativa de fazer essa data ser apenas uma passagem a mais na direção do fim mostrou-se ineficaz diante da força dessa força poderosa chamada "mídia".<br />
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Bem, já que não consegui esquecer que agora faço oficialmente parte dos "tiozinhos", dei tratos à bola. Resolvi ganhar presentes, e a única pessoa que poderia me fornecer esses mimos é a única que me ama incondicionalmente: eu mesmo. Reduzi tudo a um pequeno frenesi consumista, oferecido por uma grana inesperada e muito bem-vinda. Lógico que minha primeira providência foi matar no ninho qualquer revolta hippie sobre o real valor da vida, não quantificado pelo dinheiro. Isso é muito lindo em algum espaço utópico que ainda mantenho entre o apagar das luzes e o sono, mas a vida, desde que o ser humano decidiu dar valor a pedras e papéis, tornou a ambição parte de nossas vidas travestida de "empreendedorismo", "coragem", "qualidade de vida" e outros eufemismos jornalísticos. <br />
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OK, primeiro presente: a quitação de minhas dívidas. Sabia que isso consumiria boa parte de meus proventos, mas também sabia que isso me livraria, pelo menos por algum tempo, de alguns dissabores. Me deu pena ver tanto dinheiro indo embora assim, e ainda por cima pra bancos.<br />
Depois, uma sessão de massagem. Sentir músculos retesados ficando livres de tensão, mãos firmes conduzindo seu corpo a um nirvana carnal, quase dormir. Seu Osvaldo, definitivamente o dinheiro mais bem gasto comigo mesmo em muito tempo. <br />
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O dicionário. Esatva passeando entre sites, quando vi um Houaiss na Saraiva. Dos habituais 250 reais, uma baita grana, caiu para 158. Ainda uma baita grana, mas eu a tinha e dessa vez não havia desculpas. Não devia satisfação a ninguém (em 1990, eu quase comprei um Aurélio, mas meu querido tio, que tantas vezes antes atravancou minha vida profissional e pessoal, disse "aquilo era dinheiro jogado fora, pega essa grana e faz uma boa compra pra despensa!") e era um desejo acalentado há três décadas. Imprimi o boleto.<br />
Quando a caixa chegou, não me contive. Cheirei, apalpei, li, senti a textura. E fiquei como bobo repetindo "agora eu tenho um dicionário". Agarrado a ele como se ele tivesse sido parido por mim.<br />
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Também me permiti sonhar. Me dei um dos encadernados do Sandman de Neil Gaiman. Queria o primeiro, "Prelúdios e Noturnos", mas não achei. Fiquei com "Fábulas e Reflexões", que reúne histórias que podem ser lidas sem prejuízo da coerente cronologia dos 75 números da revista. Contos majestosos, meu amigo. Ele une terror e mitologia, sonho e pesadelo em histórias urdidas com um cinzel de palavras quase mágico. Claro que não há magia, e sim uma pesquisa profunda dos personagens abordados e das mitologias (grega, cristã, muçulmana) que faz com que Sandman ultrapasse a fronteira de ser "apenas banda desenhada" - um dia respeitam a nona arte por isso, e não a execram pelos Rob Liefelds da vida - e se transforme em Literatura, com L maiúsculo. <br />
O bom é que não preciso esperar as areias do Oniromante para ter alguns sonhos. Até porque meu sono é pesado e ruidoso. <br />
Ah, roupas... nem faz tanto tempo assim, eu andava em verdadeiros andrajos, por pura falta de amor-próprio. Sempre comprei roupas apenas para não andar nu e quando elas naturalmente se desgastavam eu as remendava. Minhas calças com remendos entre as pernas são tristemente famosas por onde quer que eu estivesse, porque alguém sempre reparava. Piorou quando comecei a trabalhar exclusivamente com mulheres, bichos futriqueiros - que mané detalhistas, isso é invasivo. E politicamente correto de cu é rola - que notam até a cor do cadarço dos meus sapatos.<br />
Isso só me colocou uma determinação: comprar roupa. Muita roupa, como eu jamais tinha feito em minha vida. Ultrapassei cotas auto-impostas por medo e covardia. Sapatos, meias, calças, camisetas. Me senti uma patricinha, com a diferença que o que moveu essas compras foi a particidade e os preços, não as grifes.<br />
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E claro, mais acesso à internet. Se antes meu objetivo era voltar a ter um computador, meu lado prático me alertou: de que adianta um PC sem conexão à grande rede? Por mais que a grana que eu tinha e mãos pudesse me dar a ilusão de poder manter, digamos, um modem 3G, meus proventos normais (ou seja, meu salário baixo) puseram essa tola ambição no seu devido lugar: dentro do meu dicionário!<br />
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Depois de tudo isso, voltei ao normal e me dei meu habitual presente de todo ano - e enfim meu lado hippie pôde se manifestar livremente, pois esse presente não precisa de dinheiro.<br />
Nove horas da manhã do dia 27 de agosto. Calço os tênis depois de ter escolhido roupas leves. Saio sem ser notado, não porque sou discreto, mas porque ninguém se importa. Abro o portão; a cidade me espera.<br />
Em silêncio, ando pelas ruas já não tão calmas de Indaiatuba. O céu está tão azul que penso ser parte de algo sublime, porém indefinido. Sento na grama, olho o espelho d'água perto da prefeitura. Uma garça propositalmente se exibe, deixando um pequeno rastro finito na água.<br />
No Centro, as pessoas com olhar perdido são apenas sons indefinidos de passos. A fonte da praça jorra, um sabiá se banha no jato coreografado. Paro, mas depois me vou.<br />
Uma sombra me espera ao meio-dia. Ninguém mais me incomoda. Respiro pausadamente. A cidade sempre é minha em meu aniversário. Eu a tomo nos braços. Ouço meu próprio sussurro. "Feliz aniversário, vellhote".<br />
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40 anos. Não sou tão importante quanto o sistema Unix. Nem tão famoso quanto Armstrong. Nem psicotropicamente louco quanto a geração do poder da flor. Minhas lágrimas não abastecem ninguém. Mesmo assim tenho 40. Boa noite. Som de rotativas.</div><br />
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<a href="http://magnatune.com/artists/albums/stromenti-italian"><b>Italian Music of the 17th Century</b></a> by <a href="http://magnatune.com/artists/altri_stromenti"><b>Altri Stromenti</b></a> </span>Anonymoushttp://www.blogger.com/profile/04293236691218246607noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-32537509.post-69506437393840684702009-09-03T22:45:00.004-02:002009-09-04T11:08:33.478-02:00O amanhã existe<div style="text-align: justify;">Tenho uma propensão à preguiça maior que a habitual. Desde fevereiro esse blog está abandonado. E nem é por falta de opinião ou do que dizer. Não que minhas palavras tenham algo maior ou menor, eu aprendi a não me levar a sério demais. Mas acontece o de sempre: vou a uma lan house.Acesso por duas, três horas. De repente lembro de uma música e a procuro no You Tube. Hoje, por exemplo, voltei à infância ao ouvir uma <a href="http://www.youtube.com/watch?v=SkN3lx-MszQ">esquecida canção</a> da Turma do Balão Mágico. Mnemonicamente, uma coisa puxou <a href="http://www.youtube.com/watch?v=BJWv3Xw5QrY">outra</a>. E <a href="http://www.youtube.com/watch?v=14l75vz-R9w">outra</a>. E <a href="http://www.youtube.com/watch?v=nmeyd_YDD4I">outra</a>. Lá se foi minha vontade de batucar.<br />
<br />
Aí me recordo de minhas tentativas em ser um contista ficcional. Era uma tentativa honesta, uma trama de ficção científica ambientada no passado, coincidentemente parecida com minha vida. Ao passar os olhos em um de meus sites prediletos, o Omelete, contudo, descubro que há uma série na BBC com uma temática parecida. Como jurar desconhecimento não adianta nada nessa era de informações velozes, abandonei a trama antes que algum sujeito olhe e me acuse. Lei de Murphy existe e insiste em ser cumprida, principalmente se você insiste em que algo dê errado.<br />
<br />
Lendo o habitual excelente texto do Inagaki sobre procrastinação, vi o que estava fazendo. E sinceramente me envergonhei. Um escriba do quilate do japaraguaio se achando, hã, um procrastinador (como sou pobre, sou vagaba mesmo) mesmo postando no InterNey, no Yahoo!, no Tumblr, na Rolling Stone... e eu, curtindo férias (que já estão no fim, que pena. Pensem o que quiserem, mas amo ficar de bobeira nos meus trinta dias de férias. Andar à toa, sentar e vegetar numa das praças de Indaiatuba, dormir, minha nossa, dormir!) e nem usar esse tempo livre pra, por exemplo, dizer que CONSEGUI COMPRAR UM DICIONÁRIO, DEPOIS DE TRÊS DÉCADAS! Como ninguém pode me mandar embora do meu próprio blog ( eu morro e não vejo tudo mesmo...), essas letras maiúsculas representam graficamente a minha satisfação em ter, finalmente, um pai dos burros. Mais que um computador, que tive e infelizmente se foi, o dicionário era um desejo acalentado desde meus 10 anos. <br />
<br />
Imagine um moleque remelento em uma Indaiatuba em versão menor e mais caipira. Imagine esse mesmo moleque vendo a versão completa do Aurélio na biblioteca da cidade, tomando ciência das primeiras palavras mais elaboradas em papel-bíblia. Imagine a frustração em não poder levar para casa, e pior: nem podendo comprar. Agora tenho um Houaiss. Papel-bíblia. 447 mil verbetes. E não usei nenhum deles pra postar algo aqui.<br />
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Se bem que existe a metalinguagem. Usar o objeto pra falar sobre o próprio objeto. <a href="http://duziadecoisas.blogspot.com/2007/05/o-fantasma-dos-blogs-passados.html">Usei isso uma vez</a>, e até gostei. Foi um lance ficcional bastante satisfatório. Acho que estou fazendo isso nesse exato momento. E enfim, após sete meses, algo foi postado aqui. Antes que isso me assombre de novo. <br />
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Não que eu acredite em fantasmas. Não acredito. Até o momento em que eles puxam minha sintaxe embaixo da cama.</div><br />
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