3.9.09

O amanhã existe

Tenho uma propensão à preguiça maior que a habitual. Desde fevereiro esse blog está abandonado. E nem é por falta de opinião ou do que dizer. Não que minhas palavras tenham algo maior ou menor, eu aprendi a não me levar a sério demais. Mas acontece o de sempre: vou a uma lan house.Acesso por duas, três horas. De repente lembro de uma música e a procuro no You Tube. Hoje, por exemplo, voltei à infância ao ouvir uma esquecida canção da Turma do Balão Mágico. Mnemonicamente, uma coisa puxou outra. E outra. E outra. Lá se foi minha vontade de batucar.

Aí me recordo de minhas tentativas em ser um contista ficcional. Era uma tentativa honesta, uma trama de ficção científica ambientada no passado, coincidentemente parecida com minha vida. Ao passar os olhos em um de meus sites prediletos, o Omelete, contudo, descubro que há uma série na BBC com uma temática parecida. Como jurar desconhecimento não adianta nada nessa era de informações velozes, abandonei a trama antes que algum sujeito olhe e me acuse. Lei de Murphy existe e insiste em ser cumprida, principalmente se você insiste em que algo dê errado.

Lendo o habitual excelente texto do Inagaki sobre procrastinação, vi o que estava fazendo. E sinceramente me envergonhei. Um escriba do quilate do japaraguaio se achando, hã, um procrastinador (como sou pobre, sou vagaba mesmo) mesmo postando no InterNey, no Yahoo!, no Tumblr, na Rolling Stone... e eu, curtindo férias (que já estão no fim, que pena. Pensem o que quiserem, mas amo ficar de bobeira nos meus trinta dias de férias. Andar à toa, sentar e vegetar numa das praças de Indaiatuba, dormir, minha nossa, dormir!) e nem usar esse tempo livre pra, por exemplo, dizer que CONSEGUI COMPRAR UM DICIONÁRIO, DEPOIS DE TRÊS DÉCADAS! Como ninguém pode me mandar embora do meu próprio blog ( eu morro e não vejo tudo mesmo...), essas letras maiúsculas representam graficamente a minha satisfação em ter, finalmente, um pai dos burros. Mais que um computador, que tive e infelizmente se foi, o dicionário era um desejo acalentado desde meus 10 anos.

Imagine um moleque remelento em uma Indaiatuba em versão menor e mais caipira. Imagine esse mesmo moleque vendo a versão completa do Aurélio na biblioteca da cidade, tomando ciência das primeiras palavras mais elaboradas em papel-bíblia. Imagine a frustração em não poder levar para casa, e pior: nem podendo comprar. Agora tenho um Houaiss. Papel-bíblia. 447 mil verbetes. E não usei nenhum deles pra postar algo aqui.

Se bem que existe a metalinguagem. Usar o objeto pra falar sobre o próprio objeto. Usei isso uma vez, e até gostei. Foi um lance ficcional bastante satisfatório. Acho que estou fazendo isso nesse exato momento. E enfim, após sete meses, algo foi postado aqui. Antes que isso me assombre de novo.

Não que eu acredite em fantasmas. Não acredito. Até o momento em que eles puxam minha sintaxe embaixo da cama.


Handshake Smiles by Arthur Yoria

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