Obrigado, pai. Obrigado, mãe. Além da óbvia junção de gametas que me criou, agradeço pelas lições tortas de vida. Se meu irmão não soube assimilar a ausência de vocês como fortes figuras paterna e materna, tive que ser mais tenaz do que o recomendável e isso me salvou. Devo minha vontade de viver e de superar adversidades a vocês.
Obrigado, Andréa, Kátia e Wagner, meus irmãos, por me ensinarem os mistérios desse sentimento estranho chamado “amor incondicional”.
Obrigado, vô Antônio. Não pelas poucas lembranças, pois você se foi quando eu ainda era menos do que uma criança remelenta, mas pelo cheiro de seu chapéu de palha, sua voz anasalada a falar calmamente entre goles de cachaça Capuava e pelo brilho no olhar, uma criança atrás de um bigode grisalho.
Obrigado, vó Maria. Seus dedos a empurrar angu e feijão em minha boca quando eu era bebê (meu tio vive me contando isso), seu cachimbo a soltar a fumaça acre do fumo de rolo, seus cabelos brancos presos num coque. Um corpo tão frágil ser responsável pela união de todo um núcleo familiar pelo menos até 1982 merece homenagens e agradecimentos.
Obrigado, Ana Maria, Juca, Garibaldo e Gugu. Graças ao empenho de vocês no programa “Vila Sésamo”, aprendi a ler aos quatro anos.
Obrigado, professora Sandra. Pelas suas letras pontilhadas em um caderno de caligrafia desvendei o hieróglifo das letras e descobri que era destro. E descobri que o Z é da zabumba.
Obrigado, Maria Ângela. O que seria da vida de alguém sem ter sofrido por um amor não correspondido? Obrigado por ter feito brotar em mim sentimentos doces e bonitos, que me acalentam a cada sorriso dado por quem quer que seja.
Obrigado, professora Maria Ermínia, por ter enfiado nessa cabeça caótica a fórmula de Báscara. Obrigado, professora Fátima, por me mostrar que the book is on the table. Obrigado, professora Esmeralda, por ser séria até demais quando cometíamos erros crassos de Português. Obrigado, professor Fubá, pela tirania nas aulas de Educação Física e por entender que eu só servia como goleiro nas partidas de futebol de salão. E obrigado, Professor Deoraci, por tornar minha quarta série mais colorida, literalmente. A primeira folha do caderno de desenho foi preenchida por uma paisagem pintada com lápis de cor pelo professor. Uma casinha, uma palmeira, o sol, um lago e a assinatura dele, numa harmonia lautrequiana.
Obrigado, Siegfredo Sieg, por oferecer meu primeiro emprego com carteira assinada. Não que você tenha sido o melhor patrão do mundo, mas o primeiro holerite é inesquecível.
Obrigado, irmãos Barbieri, por terem amenizado meus cinco anos perdidos como servente de pedreiro. José, João e Benedito eram três velhos palhaços que, entre argamassas, tijolos e gramas, adoravam tecer galhofas sobre minha adiposidade e elogios sobre meu aparentemente incompatível desempenho no trabalho. Perdemos o contato diário mas não a amizade.
Obrigado, Ângelo Queriquelli, por abrir meus olhos ao mundo invisível dos sem-teto. Ele dormia debaixo de uma das mangueiras atrás do hospital Augusto de Oliveira Camargo e um dia me abordou com uma sinceridade impressionante. Do primeiro real para tomar cachaça aos papos sobre a vida indaiatubana, cruel sob o ponto de vista dele, havia uma cumplicidade que muitos achavam estranha. Poucos conseguiam enxergar a elegância e os bons modos debaixo das roupas velhas e sujas, a inteligência sem parnasianismo debaixo da barba espessa que ele sempre teve o cuidado de manter aparada com o auxílio de uma velha tesoura. Quando ele morreu em 2004, só, abandonado em um banco de praça, lamentei por sua fraqueza e pedi a paz que ele tanto almejava no torpor alcoólico. E agradeci, claro.
Obrigado, RP. Seu nome será uma incógnita, por respeito. Mas obrigado pelos sentimentos fortes que você me proporcionou. Pelos suspiros também.
Obrigado, Rical Usinagem. Contratar alguém sem experiência para pilotar tornos CNC não é comum; é considerado “loucura” por alguns. Pela confiança, sou agradecido.
Obrigado, Janio José Sarmento. Você não precisava contatar um estranho que o aborda numa sala de bate-papo. Não precisava estreitar laços de amizade com um sujeito que mora a 1200 quilômetros de você. Não precisava me receber como o coração recebe sangue arterial. Não precisava ser minha consciência e meu guru. Você foi tudo isso e mais coisas que só não direi aqui porque sei que você detesta melação. Obrigado, irmão.
Obrigado, Marco Antonio Veloso, por dividir suas lágrimas comigo enquanto lia meus frustrados projetos ficcionais e por me inspirar definitivamente a criar um blog. Obrigado pelos telefonemas intermináveis nas madrugadas e pelas piadas.
Obrigado, Fernando Dibe Pinto. Recebi seu perfume com alegria e pretendo repartir. Obrigado por ver em mim uma promessa de algo melhor, por clarear alguns aspectos de minha percepção e pelos hiperbólicos elogios, além das verdades que preciso escutar. Sempre será um enorme prazer ler e ouvir você, fougère.
Obrigado, Alexandre Inagaki. Por tê-lo descoberto por acaso, graças ao texto sobre o filme “Simplesmente Amor” e por ter me dado a honra de fazer parte de seu blogroll. No bom sentido, claro.
Obrigado, Rafael Galvão. Fiquei bestificado com sua inesperada indicação. Bestificado e honrado, pois adoro seus textos – mijo nas calças de tanto rir quando você viaja n’ “As alegrias que o Google me dá”! Aceito críticas duras também, viu?
Ah, sim. Obrigado a você. Sim, você mesmo. É, você, que está lendo esta postagem . Muito obrigado por ouvir o que tenho a dizer.
2 comentários:
Olá. Por acaso o Fernando Dibe Pinto que você cita mora ou morou em Porto Alegre/RS e foi sócio de uma galeria chamada Banco de Arte? É que preciso falar com essa pessoa... Obrigado.
Esqueci de passar o meu contato...
blogger.com/marcelotomazi
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