Musicalmente, não sou tão intransigente. Cresci ouvindo o porgrama do Zé Béttio e do Eli Correa na rádio Record na era Machado de Carvalho e sei respeitar e ouvir casualmente modas de viola, guarânias e coisas assim. Pena não ter ouvido bons sambas (ah, era música de preto! Nunca entendi essa colorização que alguns de meus contemporâneos tentavam dar à música. Pra mim, ela é boa ou não), mas em compensação meus ouvidos foram tomados pela fina flor do brega da década de 1970.
O que quero dizer é: enquanto ouvia tudo isso por livre e espontânea pressão, pude decidir do que gostava, o que eu queria ouvir caso fosse a uma loja comprar um LP (tá, até o CD está com os dias contados e ainda insisto em me lembrar dos bolachões. Será que preciso lembrar que sou um homem nascido no século passado?). E quando fiz isso, descobri a freqüência modulada e as saudosas rádios dos anos 1980, como a Bandeirantes FM e sua programação recheada de black music, a Jovem Pan com o pop de excessos daquela época, seguida de perto pela Educadora de Campinas, a Eldorado (sim, antes dessa proliferação de rádios piratas e sinais de celular, sintonizava-se perfeitamente as rádios FM de São Paulo aqui em Indaiatuba) e suas novidades - foi lá que ouvi bandas inglesas pela primeira vez. Pronto: descobri do que eu mais gostava.
Infelizmente não restou muito dessa efervescência hoje. Certo, hoje há rádios direciionadas a ouvintes específicos; o problema é que quando uma delas faz sucesso, várias outras a copiam descaradamente e há uma saturação. Prato cheio para quem se recusa a abrir o leque de opções e se fecha na confortável ostra de seus dogmas particulares e "corretos".
É duro chegar em casa, depois de um dia ouvindo vozes tonitruantes e ser obrigado a ouvir a Laser FM e suas duplas breganejas destilando sexismo e apologia à bebedeiras (se fosse à maconha, provavelmente algum pai preocupado já acionaria o Ministério Público ou algo semelhante) ou a tal 105 FM e seus sambanejos e raps "contestadores" - que saudade do Thaíde! Aumenta-se o volume (há uma disputa em meu quintal para ver quem tem o aparelho de som mais potente e os tímpanos mais danificados), virunda-se letras e eu, que só queria ouvir meus CD's, tenho que sair e torcer para ouvir ocasionalmente um Maroon 5 para tirar uma maldita letra do Rick ou do Belo da cabeça.
Não sou tão intransigente, não mesmo. Mas odeio massificação. Por isso odiei de morte o tal do pan. Meu cérebro precisa ser oxigenado. Seja com "Franguinho na panela" de vez em quando, seja com "I wish I had an angel", seja com "Coisinha do pai". Mas um pouco de cada vez, em doses prescritas por um DJ eclético, porém inteligente. E não confunda ecletismo com transtorno bipolar.
Olha só que coisa: nunca tinha visto o clip dessa música....
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