(Texto escrito em 02 de junho de 2004)
Refém da tevê aberta que sou, restrinjo meus conhecimentos televisivos ao que as majors querem me mostrar. Entre uma entrevista do Jô (que para mim perdeu a pouca relevância que tinha graças ao ego do menino) e um filme ora brilhante, ora tapa-buraco (ninguém merece ver pela enésima vez filme do brócoli metido a ser humano Chuck Norris ou do brucutu com alma de asno Steven Seagal - no máximo, servem como programas humorísticos involuntários) descobri que o SBT do seu Silvio preenche as madrugadas com séries bem bacanas. Nem sempre dá para assistir, já que chego entre uma e meia e 1:45 da madrugada e a programação do SBT é errática, mas já elegi minha favorita: A Sete Palmos (Six Feet Under).
Ela me cativou com o tema de abertura, uma beleza (se não me engano é do Thomas Newton Howard) aliado às imagens da abertura, plasticamente belas. Os roteiros raramente fazem concessões (afinal, é uma produção HBO, que adora chutar o pau da barraca. Quem assitiu OZ sabe do que falo), e são bem amarrados, com drama e humor negro bem adultos. Alan Ball é o cara.
O que mais me chamou a atenção foi o destaque a algo que adoramos deixar para escanteio: a morte. Ela não é tratada com a reverência ou o medo habituais, e sim como um negócio, e bem lucrativo. Sob o cinismo da família Fischer (espero ter grafado corretamente), há a consciência da inevitabilidade e a ganância que um negócio tão lucrativo traz - afinal, todos nós vamos morrer um dia e há uma cultura de respeito ao féretro. Deliciosa uma cena em que o mais velho dos irmãos (não consegui gravar o nome dele - aliás, de ninguém ainda) se entusiasma ao saber que houve um terrível acidente de ônibus e que dois dos corpos podem vir a ser "potenciais clientes". O mais novo o repreende: "contenha seu entusiasmo". Mórbido, mas hilário.
É engraçado como negamos o fato mais certo de nossas vidas de forma tão veemente. Nossa mortalidade nos assusta e por isso criamos todo um aparato religioso para nos consolar. Seja o Paraíso cristão, a reencarnação budista (ou kardecista, não sei ao certo) ou a promessa da ressurreição, muitos se refugiam na idéia de um novo começo após nossa passagem. Alheia a tudo isso, a morte apenas aguarda, sábia, o dia em que nos leva, sem direito a apelação.
Por algum tempo isso me angustiou porfundamente, e confesso que há dias que o medo do desconhecido é fortíssimo, principalmente à noite, deitado no escuro. Hoje em dia ao abrir os olhos e verificar que estou vivo, apenas murmuro "lá vamos nós de novo" e me ponho de pé, doido pra me livrar do bafo matutino.
Um comentário:
Olá Sidnei!
Achei que você tinha abandonado de vez seu blog!
Parabéns pelo texto e continue escrevendo!
Obrigado
Ray
Postar um comentário