4.9.11

#6


A primeira vez que me senti apaixonado foi aos 13 anos. Não era um desejo carnal tão comum quando os hormônios nos fazem ir à caça e o cérebro, este órgão fanfarrão, quer transformar tudo em uma linda história cheia de preceitos morais, éticos e humanos. Era uma paixão pelas partes do todo que culminavam em uma obsessão pelo objeto completo.

Os cabelos longos e de um amarelo dourado. Os olhos castanho-esverdeados. As mãos a segurar lápis e canetas. O cheiro. E, claro, minha falta de coragem para me declarar. Quando a coragem veio, fiz que faço de melhor: escrevi uma carta (ok, engraçadinhos, eu acho que escrever é o que faço de melhor, posso? Agora parem de rir. É sério. Ah, qualé...).
Foi a pior atitude que eu tomei. Eu não era alvo do radar dela, mas quando apareci no monitor ela percebeu que tinha um motivo para se divertir. De uma certa forma foi até bom; alguns homens não sonham ser a razão da alegria e das risadas de uma mulher? Pois é. Pena que eu era só o bobo da corte, não o cortejador.
Ao vê-la beijando um rapazinho diametralmente oposto ao meu tipo físico – corpo longilíneo, tez alva e cabelos loiros, se fazem tanta questão de saber – meu corpo entrou no horizonte de eventos próximo a um buraco negro. Só não fui sugado porque eu descobri os gibis da Marvel e que o cheiro da biblioteca era melhor do que o perfume dela.
Cheiro. Há o rosto, há o toque, há até o paladar da saliva, mas assim como um Grenouille tupiniquim eu sou atraído pelo cheiro. Chego a me apaixonar por ele. É como se ele exalasse algo que me falta. Por isso eu nunca dei muita sorte nessa coisa que algumas pessoas chama de amor – meus amigos, essa coisa que vocês chama de amor nada mais é que a ação dos verdadeiros donos do seu corpo, os hormônios, como a noraprinefrina, a serotonina e a dopamina. Mas estou divagando.
Falava do cheiro e dos efeitos nada benéficos que ele causa em minha vida afetiva. Sem entrar muito em detalhes, digamos que, ao seguir os conselhos de muita gente que dizia “jogue-se, entregue-se, ouse”, eu esqueci de uma coisa muito importante: as pessoas baseiam-se em seus olhos e ouvidos. E não sou exatamente uma escolha agradável à visão de algumas pessoas. Pensando bem, se não fossem os perfumes que uso, nem meu cheiro seria tolerado!
Você não entendeu? Que pena.

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