A
primeira vez que me senti apaixonado foi aos 13 anos. Não era um
desejo carnal tão comum quando os hormônios nos fazem ir à caça e
o cérebro, este órgão fanfarrão, quer transformar tudo em uma
linda história cheia de preceitos morais, éticos e humanos. Era uma
paixão pelas partes do todo que culminavam em uma obsessão pelo
objeto completo.
Os
cabelos longos e de um amarelo dourado. Os olhos
castanho-esverdeados. As mãos a segurar lápis e canetas. O cheiro.
E, claro, minha falta de coragem para me declarar. Quando a coragem
veio, fiz que faço de melhor: escrevi uma carta (ok, engraçadinhos,
eu acho que escrever é o que faço de melhor, posso? Agora parem de
rir. É sério. Ah, qualé...).
Foi
a pior atitude que eu tomei. Eu não era alvo do radar dela, mas
quando apareci no monitor ela percebeu que tinha um motivo para se
divertir. De uma certa forma foi até bom; alguns homens não sonham
ser a razão da alegria e das risadas de uma mulher? Pois é. Pena
que eu era só o bobo da corte, não o cortejador.
Ao
vê-la beijando um rapazinho diametralmente oposto ao meu tipo físico
– corpo longilíneo, tez alva e cabelos loiros, se fazem tanta
questão de saber – meu corpo entrou no horizonte de eventos
próximo a um buraco negro. Só não fui sugado porque eu descobri os
gibis da Marvel e que o cheiro da biblioteca era melhor do que o
perfume dela.
Cheiro.
Há o rosto, há o toque, há até o paladar da saliva, mas assim
como um Grenouille tupiniquim eu sou atraído pelo cheiro. Chego a me
apaixonar por ele. É como se ele exalasse algo que me falta. Por
isso eu nunca dei muita sorte nessa coisa que algumas pessoas chama
de amor – meus amigos, essa coisa que vocês chama de amor nada
mais é que a ação dos verdadeiros donos do seu corpo, os
hormônios, como a noraprinefrina, a serotonina e a dopamina. Mas
estou divagando.
Falava
do cheiro e dos efeitos nada benéficos que ele causa em minha vida
afetiva. Sem entrar muito em detalhes, digamos que, ao seguir os
conselhos de muita gente que dizia “jogue-se, entregue-se, ouse”,
eu esqueci de uma coisa muito importante: as pessoas baseiam-se em
seus olhos e ouvidos. E não sou exatamente uma escolha agradável à
visão de algumas pessoas. Pensando bem, se não fossem os perfumes
que uso, nem meu cheiro seria tolerado!
Você
não entendeu? Que pena.
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