3.9.06

Tá fresquinho, tá bonito, tá gostoso!

Se você quer manter contato com as pessoas, principalmente se você tiver evitado isso durante muto tempo da vida, ande e vá onde elas vão. Como pessoas precisam comer e se higienizar, aglomere-se em supermercados e feiras-livres. Apesar dos supermercados terem a vantagem óbvia da proteção contra as intempéries e o sol, é nas feiras que o burburinho é mais acalorado.

Imagine uma manhã de domingo com céu azul, como essa em que escrevo. Entre quatro e cinco horas da manhã os primeiros feirantes chegam, dispondo suas caixas, engradados, lonas, armações. Nem bem eles têm produtos à mostra os primeiros fregueses, senhores e senhoras com mais de 50 anos carregando sacolas de lona ou carrinhos de metal, já procurando as melhores frutas e os peixes mais frescos.

O sol ameaça aparecer, deixando o horizonte carmim. Os demais fregueses estacionam seus carros, ou saem dos ônibus calmamente ou simplesmente caminham. O burburinho aumenta; os aromas se intensificam. Os pescados ainda estão cheirando bem, uma mistura de escamas e gelo, as frutas invadem o ar e pintam as barracas, dando um tom impressionista à cidade. Há flores sendo vendidas, e como não sei o nome delas (invejo as senhoras que desfilam conhecimento botânico ao ver uma vaso púrpura ou lilás: "olha, que gérberas lindas", ou "será que os crisântemos podem ser transplantados?") apenas admiro e sinto seu cheiro.

Há quem se aproveite das feiras para legalizar a condição de camelô e vender CD's piratas. Desde recentes lançamentos a módicos 5 reais a caça-níqueis do tipo "As melhores canções de...". Dia desses me deram um CD pirata da Madonna, com o título de The Best of Madona (sic), com 2 músicas da... Cyndi Lauper. Bem, mas estou divagando.

Claro que não poderia deixar de falar do supra-sumo dos odores: os das barracas de alimentos para consumo imediato. Que tal uma com produtos deriavdos de milho? Pamonhas apetitosas, curau, suco de milho... ah, para um gordo como eu, é simplesmnete irresistível. Mas o que mata é a bomba calórica dos pastéis. Na feira dominical há quatro. Lembram daqueles desenhos onde o personagem vai até o alimento voando, guiado pela fumacinha exalada por ele? É mais ou menos isso: os banquinhos em volta da barraca nunca ficam livres; pessoas conversam animadamente entre dentadas no pastel, que pode ser os tradicionais (queijo, carne, palmito) ou mesmo invenções - os mal-humorados chamam de invencionices - como o bauru, frango com catupiry...

E sempre entre uma sacola e outra há o papo com um conhecido que não víamos há meses ou anos ou algum desconhecido ávido por cinco minutos de prosa. Já ouvi histórias escabrosas sobre filhos desnaturados, relatos de viagens, receitas de comida e remédios caseiros, conversas de pescador, ou apenas as obviedades sobre o tempo - meteorológico ou pessoal ("no meu tempo... ").

Estou com três sacolas: uma com maçãs, outra com carambolas e mais uma com bananas prata. Ouvi contos sobre um casamento modorrento, uma partida de bilhar perfeita; vi dois candidatos a deputado estadual sorrindo para tudo e todos. Respirei o ar perfumado com peixes, melões, gorduras e violetas. Domingos assim merecem um bordão daqueles insequecíveis.

"Olha o tomate, senhora! Uma bacia, dois real!". "Tá docinho, moço, quer provar? É só um e cinqüenta!". "É pra acabar!"

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi,
Descobri seu blog por acaso. E que feliz acaso foi!!!
Que saudade me deu das feirinhas de comida e "tudo o mais" do Brasil!! Do cheiro, dos sons, do clima. Aqui eh tudo, plastificado, pasteurizado, lacrado, fechado a vacuo. Nao tem o aroma dos pasteis sendo perseguido pelo desenho animado e nem tem pasteis. Nao tem o queijo fresco direto da fazenda, que como uma boa mineira, eh uma tortura ficar sem. Nao tem o bate-papo do conhecido de anos, meses ou do desconhecido louco por conversa. Aqui eh tudo muito polido e educado. Sem direito a cd pirata "dois por 3 real, tia!!!". Nem tem o burburinho da feira. Aqui eh tudo muito civilizado e contido. Nem sei se podemos chamar isso de feira.
Ah, que pena tenho deles!!! :o)))
De agora em diante, vou passar por aqui sempre.
Patricia,
ilhada, sem cedilha, acento e derivados.
P.S.: Nao consegui comentar sendo usuaria - :o)))) - do blog beta. Entao teve que ser anonimo mesmo, tanta era a minha vontade de comentar aqui. :o)))