4.8.07

Silêncio é ouro. Prata. Bronze. Socorro!

Existem canais de tevê que só mostram desenhos. Outros, só filmes. Outros, só futebol. Notícias. Seriados. Pornografia. Se alguém se habilita a ser assinante de um desses canais, sabe o que quer ver e se prontifica a ser inundado por pensamentos monogâmicos, por vontade própria.

Quem, por deficiência financeira ou simples desinteresse, tem apenas as redes abertas de televisão, mereceriam, se não qualidade de programação, pelo menos variedade. Não variedade no sentido "oba, posso ver outra coisa além de novela às nove da noite", mas uma variedade durante a grade diária. Uns desenhos, algumas receitas, filmes repetidos à exaustão (se bem que quando "Curtindo a vida adoidado" é reprisado na Sessão da Tarde, lá estou eu, concordando a filosofia de vida buelleriana e cantando "Twist and shout" a plenos pulmões), notas e notícias, o sensacionalismo nosso de cada dia, os fofoqueiros que esfregam na nossa cara o diploma da Cásper Líbero e se intitulam "jornalistas sérios", as mocinhas e vilões dos folhetins de quase todos os canais. Nada que demande muitos neurônios, apenas algumas inserções de merchandising.

Contudo, basta que um "grande evento" aconteça para que diretores, produtores, jornalistas e afins tenham a oportunidade de desligar oficialmente o cérebro. É época de Oscar? Dá-lhe estatísticas sobre filmes, históricos sobre atores e diretores, apostas. Copa do Mundo? Mais fácil ainda: adicione a patriotada a esse evento, diga chavões sem medo e inunde agências de publicidade com temas correlatos.

Caramba, como esse pan encheu o saco! Não era apenas o futebol. De repente, só porque um cara que sequer era notado ganhou a primeira medalha de ouro, viramos "o país do tae-kwon-do". Bastou ter um brasileiro entre os três melhores, nos tornamos "fanáticos por"... qualquer esporte sem o mínimo apoio oficial e privado. A guria que ganhou ouro no pentatlo moderno (hein?) sequer mereceu uma nota de rodapé antes. De repente, Tadeu Schmidt e Glenda Koslowski estão todos sorridentes com " a nova heroína brasiliera". O hipismo, esporte que qualquer um pode praticar - afinal, basta ter cavalos avaliados em milhares de dólares e um modesto haras -, a vela, outro esporte acessível... e não nos esqueçamos do popularíssimo nado sincronizado, do arrebatador pólo aquático. Handebol, pelamordedeus! Pensar que cheguei a praticar esse trem na escola!

De manhã, à tarde, à noite. Galvão Bueno se esgoelando numa partida de basquete, tendo espasmos numa partida de vôlei. Um tal de Rembrandt Jr. desfilando termos estranhíssimos com a naturalidade de um Van Damme interpretando. Cléber Machado querendo seguir os passos do "chefe" Galvão. E um monte de informações inúteis. De imagens que serão reproduzidas provavelmente num jogo do XBox 360, Wii, ou PS3.

Os dezoito dias (foram dezoito mesmo, né) mais longos que já vivi. Pelo menos até a chegada das olimpíadas. E da copa do mundo. E das eleições... bem, pelo menos se a cobertura for decente.... nah!

Um comentário:

Na Caixola disse...

Acabei de descobrir o seu blog e estou gostando muito dos textos. Escrever é a melhor forma de não enlouquecer com um mundo cada vez tão formado pelos interesses da tv. Depois dê uma passadinha no www.nacaixola.blogspot.com , este é o meu blog. Também gosto de escrever loucuras da mente que surgem em meio ao caos urbano.

Um abraço,

Ícaro Vieira