28.8.06

Seja civilizado com um barulho desses!

Dentre meus hábitos, um dos mais prosaicos é sair de um supermercado com algo pra comer na rua. Desde que os supermercados tornaram-se presentes em minha vida, mais ou menos quando eu tinha 12 ou 13 anos, eu degusto algum repasto processado por uma empresa alimentícia.

(Um pequeno apêndice: até meus 12 anos minha família fazia compras em armazéns. Para os que não se lembram ou não sabem do que estou falando, era mais ou menos assim: fazíamos uma lista de compras mensal em casa, detalhada com nome e quantidade, e nos dirigíamos ao armazém - ou o do seu Gentil, a menos de 200 metros de casa, ou o do seu Oscar, uns 800 metros mais longe. Chegando lá entregávamos a lista ao atendente, que era o proprietário ou um de seus familiares, que os pegava e os dispunha em cima do balcão. Os sacos de arroz de Capivari, o feijão a granel colocado num saco de papel cinza, o açúcar cristal, o café moído na hora - aquele aroma era extraordinário! - e o que mais me fascinava: o óleo a granel que vinha em tambores de 200 litros, bombeado por um apetrecho sensacional, movido a manivela; ele puxava exatamente um litro em um receptáculo no giro da manivela no sentido horário e o despejava no garrafão de vinho vazio - era o que usávamos para acondicionar o óleo - no sentido anti-horário.)

Nas sacolas, entre as compras "sérias", havia sempre um pacote de biscoito ou bolacha, ou iogurte para beber (ou "bebida láctea a base de iogurte"... puxa, essas regras da Anvisa não têm poesia!) ou uma barra de chocolate, uma bebida gaseificada ou não, ou até uma fruta rara em casa, como pêra ou uva. O prazer era imenso: se eu não tinha muitas sacolas, o produto era consumido durante a caminhada; se as sacolas se multiplicavam em minhas mãos eu procurava uma praça aconchegante e me sentava, mastigando e observando os transeuntes.

Desejo satisfeito e um problema que deveria ser menor aparece: onde eu vou jogar os restos de meu consumo - latas, embalagens, talos, sementes? No lixo, responderia alguem que ouvisse pergunta tão banal. Mas o que seria uma banalidade transforma-se num transtorno aqui em Indaiatuba.

Pelo que sei, produzimos uma média de 500 gramas de lixo por dia. Não falarei aqui dos aterros sanitários à beira do colapso ou de reciclagem, e sim compartilhar uma verdade ridícula: não há latas de lixo o suficiente aqui.

Se eu fosse como muitos de meus patrícios eu solenemete ignoraria a higiene e jogaria tudo o que não me serve mais em qualquer canto, seja numa calçada, uma boca-de-lobo ou terreno baldio. Só que aprendi a não sujar mais do que o necessário, pois sei o trabalho que dá limpar. Infelizmente aqui em Indaiatuba achar uma lata de lixo fora dos pontos estratégicos (praças centrais, os centros de compras, prédios públicos) é impossível.

Tome como exemplo a avenida Francisco de Paula Leite. Ela atravessa a zona sul inteira e só há dois lugares onde podemos depositar o lixo ocasional: em frente ao CAT do SESI e perto de um boteco, que deixou um tambor de 200 litros amarrado a uma árvore. Se você chupar uma bala, tomar um refrigerante ou comprar uma revista que venha embalada num daqueles filmes plásticos tem ou que esperar até chegar a um desses pontos ou guardar o trambolho e jogar no lixo de sua casa.

Num dos inúmeros quadros que Regina Casé e seu marido Estevão Ciavatta criaram pro Fantástico, ela criticou a falta de higiene e de civilidade dos que jogam lixo na rua, dentre outras coisas. Também me lembro de um senhor que trabalha na empresa de coleta aqui na cidade dizendo que a culpa da falta de lixeiras era do próprio povo, que as vandaliza. Ou seja, enquanto há esse tradicional jogo do empurra, quem quer apenas cumprir sua obrigação fica com uma garrafa PET na mão e alguns imprompérios na cabeça.

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